18 dezembro 2006

Dom Quixote

Miguel de Cervantes

1.
Numa pequena aldeia da Mancha, província espanhola, vivia um fidalgo. Um homem de costumes rigorosos e decadente fortuna. Dom Quesada ou Quixano – nunca ninguém soube ao certo – vivia da exploração de suas propriedades, que mal lhe rendiam para manter uma simples aparência de abastança. Homem forte, altivo e nervoso, cultivava a caça como esporte e como forma de abastecer melhor a sua mesa.
(...)

Ele possuia um pangaré que era usado nos serviços do sítio. O animal, apesar de magro e feio, pareceu um belo garanhão aos olhos do fidalgo. Depois de muito pensar, deu-lhe o nome de Rocinante. Esse nome lhe pareceu sonoro e adequado. Se antes havia sido um simples rocim, nada mais justo que agora fosse um Rocinante.

Batizado o cavalo, faltou-lhe um nome para si mesmo. Os nobres cavaleiros, personagens de seus livros, sempre trocavam os nomes. Ele deveria fazer o mesmo. Depois de oito dias remoendo o cérebro, encontrou um que lhe serviu como armadura da alma até o final de suas aventuras. Não seria mais simplesmente Quesada ou Quixano, e sim Dom Quixote. E, como faziam os cavaleiros andantes, juntou ao seu o nome do lugar de origem: Dom Quixote de la Mancha.
(...)

2.
Montado em seu Rocinante, Dom Quixote cavalgou pela estrada, depois de ter saído furtivamente pela porta falsa do curral. Vestida a armadura, cingiu a espada e, com a lança segura pela mão direita, sentiu-se o mais puro e valente cavaleiro do mundo. A facilidade com que consegui esqueirar-se de casa sem que fosse percebido, deu-lhe a certeza de sucesso em qualquer empreitada. (...)

3.
Dom Quixote de la Mancha não queria mais adiar a cerimônia que o faria um cavaleiro legítimo. Por isso pediu ao estalajadeiro que o acompanhasse até o estábulo e lá, ajoelhando-se imediatamente diante do homem, pediu:
– Não me levantarei jamas daqui, valoroso cavaleiro, se não me concederdes o dom de vos pedir algo que resultará em proveito vosso e grande benefício para a humanidade.
(...)

Fonte: Cervantes, M. 2001. Dom Quitoxe, o cavaleiro da triste figura. SP, Scipione.

1 Comentários:

Blogger Guto Melo disse...

O cavaleiro muquirana em seu cavalo magro. Grande Dom Quixote! Não precisa nem de tanto poder pra convencer.

20/12/06 11:57  

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