20 dezembro 2006

Impermanência

Silvia Rubião

Que as margens

devolvam ao percurso

o acumulado

restos de um tal rio

deserdado, que

mesmo por fluir, deixa

o leito escasso, quase estranho

embora brilhe

o limo desfolhado

posto à deriva

de um ponto cego onde

o vazio reencontra a sua via

impermanente


Algo que se adere

bordeja nas franjas

infenso a golpes

permanece

assim na superfície

ou apenas transparece

num vago alento, o que no fundo

recupera

ramagens esgarçadas

seixos intocados

ao negar nestes domínios o mesmo

que o corpo

tão afoito

na certeza de afogar-se

expõe a um só tempo

ainda agora, em outro extremo

em vão tenta diluir

a beleza irresoluta

que súbito
submerge

Fonte: poema publicado na edição de outubro de 2005 da revista eletrônica A máquina do mundo e republicado aqui com o devido consentimento da autora, a quem agradeço pela cortesia.

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