10 fevereiro 2007

O cão de olhos amarelos

Alberto da Cunha Melo

Numa cova de sombra, um cão,
na calçada de um bar gemia.

Numa cova de sombra, um cão,
na calçada de um bar gemia.
Era um cão de olhos amarelos
com uns tons de urina boiando
pelo ferro podre das órbitas.

com uns tons de urina boiando
pelo ferro podre das órbitas.
Jupy já não ia catar
o que os outros cães procuravam
nas lixeiras cheias de vômito;

o que os outros cães procuravam
nas lixeiras cheias de vômito;
mas, sua presença de sombra
era tão densa na calçada,
que as outras sombras tropeçavam.

era tão densa na calçada,
que as outras sombras tropeçavam.
Esse cão de olhos amarelos
sequer foi ligeira lembrança
ou herdeiro de um ossuário.

sequer foi ligeira lembrança
ou herdeiro de um ossuário.
Jupy, com seus olhos de pus
novo, ou de abstratíssimo ouro,
vivia a ver o chato chão.

novo, ou de abstratíssimo ouro,
vivia a ver o chato chão.
Um chão de pedras portuguesas
manchadas de catarro grosso.
Agora, vêm sujá-lo as botas

manchadas de catarro grosso.
Agora, vêm sujá-lo as botas
de algum fiscal da prefeitura,
que o leva no laço, enforcando-o,
sem um latido de protesto.

que o leva no laço, enforcando-o,
sem um latido de protesto.

Fonte: Melo, A. C. 2006. O cão de olhos amarelos & outros poemas inéditos. SP, A Girafa.

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