19 agosto 2007

Deriva continental e tectônica de placas

Peter Ward

A idéia de que os continentes não estão fixados na superfície da Terra, mas podem de algum modo se mover, não é nova. A congruência notável da forma dos litorais da África ocidental e do leste da América do Sul despertou a atenção dos geógrafos tão logo se tornaram disponíveis mapas precisos do Novo Mundo. Mas inúmeras idéias malucas pulularam através da história, e essa pareceu ainda mais excêntrica que a maioria. O conceito de deriva continental foi seriamente considerado pela primeira vez no final do século 19, quando o então famoso geólogo austríaco Eduard Suess sugeriu que a África, Madagascar e Índia estiveram outrora unidos como uma única massa de terra, separando-se somente depois. Suess baseou sua proposição herética na grande semelhança de tipos de rochas encontradas em todas as três áreas. Ele batizou esse antigo continente de Gonduana, derivando o nome de um lugar na Índia habitado por uma tribo denominada Gonds.
[...]

As várias linhas de discussão em favor do conceito de um supercontinente antigo e sulino foram reunidas em um livro notável, publicado por um meteorologista alemão em 1912. Alfred Weneger estava convencido de que a grande semelhança entre os litorais da África ocidental e do leste da América da Sul transcendia qualquer possibilidade de coincidência. Ele reuniu o máximo de informações paleontológicas e geológicas possível em apoio à sua causa. Mas em muitos aspectos, a prova principal foi a presença de fósseis de mesosauro em camadas de idade semelhante dos diferentes membros de Gonduana agora separados.

Weneger tinha a confiança cega de um fanático religioso. Entretanto, faltavam-lhe os conhecimentos geológicos detalhados para realmente apoiar sua hipótese. A publicação do livro de Weneger foi recebida com aplausos discretos e uma sensação crescente de admiração pelos cientistas do hemisfério sul e com apupos ensurdecedores pelos muitos mais numerosos (e ignorantes) geólogos do hemisfério norte. “Como é possível continentes se moverem sobre o fundo sólido dos oceanos?”, pradaram os críticos. Os geofísicos, aqueles geólogos que lidavam com o interior e a física da Terra, foram particularmente contundentes em suas críticas, esquecendo que fizeram parte do mesmo grupo de cientistas que garantiu ao mundo que Darwin estava errado sobre a antigüidade da Terra – que, de acordo com os cálculos deles, não tinha mais de 5 milhões de anos. (Eles erraram por um fator de mil.) Quando Weneger morreu em um acidente de balão sobre a capota de gelo da Groenlândia, em 1930, a comunidade geológica emitiu um mal dissimulado suspiro de alívio. Mas não por muito tempo.

No início do século 20, um jovem geólogo sul-africano chamado A. L. du Toit, começou a cruzar a África do Sul, gastando vinte anos examinando a estrutura das rochas, mapeando vastas extensões de território, arquivando assim vastas quantidades de informação em sua memória enciclopédica. Du Toit, que logo percebeu que a escandolosa hipótese de Weneger explicava muitos dos aspectos geológicos do sul da África, publicou em 1921 seu primeiro estudo sobre a possibilidade de “deslocamento dos continentes”. [...]

Em 1937, du Toit publicou um livro monumental sobre Gonduana chamado Our wandering continents: An hypothesis of continental drifting. Seus detratores o espinafraram. Os mesosauros poderiam facilmente nadar através dos oceanos, clamaram; a semelhança nos estratos e o encaixe dos litorais dos diferentes membros de Gonduana não passavam de coincidências, zombaram. Por 25 anos, a idéia esteve morta nas mentes dos geólogos, exceto uns poucos obstinados; o resto do mundo científico parece ter ignorado o conselho oportuno na capa do grande livro de du Toit: “A África forma a Chave”.

Fonte: Ward, P. 1997. O fim da evolução. RJ, Campus.

2 Comentários:

Blogger hgb7 disse...

Cool!

21/8/08 18:52  
Anonymous Anônimo disse...

q droga...nada a ver com o q eu kero q lixo de site...

22/12/08 00:58  

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker