10 setembro 2007

O périplo do imemorial

Aguinaldo Gonçalves

1.
mas é na terra que a terra da terra espera:
o mesmo cheiro
a mesma monodia dos sinos
o mesmo desenho de janelas

2.
ouço ao longe as pegadas que se mostram
aos meus olvidados firmamentos

vermelho

arranco-lhe as entranhas
como raízes
intactas

3.
é esta mancha que
ofusca o novelo de meus dias
fios de cobre a prender meus dedos
na praça da Matriz

4.
Mondrian
surge na esquina
com chapéu na mão

5.
a máquina roçando a nuca
poros amarelos
e a poeira entrando nos olhos
doloridos

6.
nestas águas claras
o poço mais profundo
tem posse de um tesouro

7.
rio manso
corre
para o mar bravio

8.
peixes nadam
peixes andam
entre águas

9.
mesmo que todo o calçamento esteja solto
procurarei os pontos certos
e chegarei ao porto
sem vento

Fonte: Gonçalves, A. 2000. Vermelho. SP, Ateliê Editorial. O título completo da obra seria “O périplo do imemorial (em nove movimentos)”.

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