28 fevereiro 2008

Subvertendo idéias vagas

Mario Bunge

A Segunda Guerra Mundial teve um efeito imprevisto e salutar na metodologia das ciências não-físicas: subverteu o modo tradicional de pesquisa nestes domínios, ao ressaltar o valor de teorias, em particular de teorias formuladas com o auxílio da matemática. Antes se observava, se classificava e se especulava: agora se acrescenta a construção de sistemas hipotético-dedutivos e se procura pô-los à prova experimental, até em psicologia e em sociologia, outrora bastilhas do vago. Outrora se utilizava apenas a linguagem comum para exprimir idéias, resultando sempre falta de precisão, na verdade falta de clareza. A matemática só intervinha no final para comprimir e analisar os resultados de pesquisas empíricas na maioria das vezes superficiais por falta de teorias: fazia-se uso quase que exclusivamente da estatística, cujo aparato podia disfarçar a pobreza conceitual. Agora se usam cada vez mais várias teorias matemáticas para a própria construção das teorias. Começa-se a compreender que o objetivo da pesquisa não é a acumulação dos fatos mas a sua compreensão, e que esta só se obtém aventurando e desenvolvendo hipóteses precisas.

Fonte: Bunge, M. 1974. Teoria e realidade. SP, Perspectiva.

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