11 março 2008

O rebanho e o homem

José Carlos Capinan

O rebanho trafega com tranqüilidade o caminho:
é sempre uma surpresa ao rebanho que ele chegue
ao campo ou ao matadouro.
Nenhuma raiva
nenhuma esperança o rebanho leva,
pouco importa que a flor sucumba aos cascos
ou ainda que sobreviva.
Nenhuma pergunta o rebanho não diz:
até na sede ele é tranqüilo
até na guerra ele é mudo –
o rebanho não pronuncia,
usa a luz mas nunca explica a sua falta
usa o alimento sem nunca se perguntar.
Sobre o rebanho o sexo
que ele nunca explicava
e as fêmeas cobertas
recebem a fecundidade sem admiração.
A morte ele desconhece e a sua vida,
no rebanho não há companheiros
há cada corpo em si sem lucidez alguma.

O rebanho não vê a cara dos homens
aceita o caminho e vai escorrendo
num andar pesado sobre os campos.

Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª edição. RJ, Aeroplano.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker