21 maio 2008

Caninos brancos

Jack London

1.
O conjunto de abetos escuros formava uma floresta que margeava ambos os lados do gelado curso de água. Um vento recente arrancara às arvores o seu manto de geada, e elas pareciam inclinar-se umas para as outras, negras e agourentas, na luz agonizante. Reinava sobre a paisagem um silêncio imenso. Aquela região era desolada, sem vida, sem movimento, tão só e gelada que a palavra tristeza não era suficiente para a descrever. Havia nela uma sugestão de riso, mas de um riso mais terrível que qualquer tristeza – um riso sem alegria, como o sorriso da esfinge, um riso frio como o gelo e com algo do horror da infalibilidade. Era a sabedoria despótica e incomunicável do riso eterno perante a futilidade e as agruras da vida. Era a terra do pólo Norte, agreste e gelado.

London, J. 2003 [1906]. Caninos brancos. SP, Martin Claret.

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