30 junho 2008

Vanitas


Adriaen van Utrecht (1599-1652). Vanitas: still life with bouquet and skull. 1642.

Fonte da foto: Web Gallery of Art.

29 junho 2008

Tatuagem

Maria Teresa Horta

Ossifico a dor
o dia

Tatuagem
de tatuar o espaço
livre

onde a queda
a neve
ou o meio-dia
multiplica

a multiplicação
do sangue
um sulco claríssimo

um regresso de
células nas veias

qualquer coisa
de vário
ou de estanho

a moleza branca
de um calor
rosado

Tatuagem feita
vezes quatro

aquidade espessa
de chuva sem
passagem

olhos animais de cornos
azuis

e perfilados
com lágrimas por dentro
ou neve ossificada

Tatuagem
tatuo no ventre um filho
Mãe depois e nunca
verificada

Mãe de ovários
duros
e peitos madrugada
com um amante
por noite

um animal

uma harpa

Ou qualquer coisa
de bom
de esquecimento
de sono

o para sempre estar deitada
as pernas
sementes várias

o para sempre estar escolhida
entre mulheres
sem imagem

Tatuagem
violada
que se traz sob um dos
braços

uma agudeza
de água
epiderme rouca e parca

Partida
sem ser viagem

ou despedida
ou embarque

Tatuar
de tatuagem

sede de queda
oxidada

Fonte (para as primeiras oito estrofes): Melo e Castro, E. M. 1973. O próprio poético. SP, Quíron. Poema originalmente publicado em 1961.

28 junho 2008

Vila de Barbacena

Auguste de Saint-Hilaire

Tendo passado o Registro Velho avistamos, do alto de uma crista, a Vila de Barbacena, e lá chegamos, depois de caminhar cerca de seis léguas a partir de Mantiqueira.

Julgava que Barbacena, situada na extremidade das imensas florestas que acabávamos de atravessar, não apresentasse mais que uma reunião de miseráveis choupanas, e fiquei agradavelmente surpreendido de encontrar uma pequena cidade que pode rivalizar com todas as da França de igual população.

Essa localidade, que depende da comarca do Rio das Mortes, não era antigamente mais que uma povoação, e tinha o nome de Arraial da Igreja Nova. O Visconde de Barbacena, governador da Província das Minas, ficou impressionado com a localização vantajosa dessa povoação; concedeu-lhe privilégios, fez erigi-la em vila por um decreto do ano de 1791, deu-lhe seu nome, e para lá atraiu habitantes. Contam-se aí, atualmente, cerca de duzentas casas com uma população de 2.000 almas, e avalia-se a paróquia em 9 ou 10.000 almas em um raio de dez léguas aproximadamente.
[...]

No dia em que chegamos a Barbacena, falaram-nos de um desses espetáculos ridículos denominados presépio, em que se fazem representar por títeres, cenas tiradas da Sagrada Escritura. Resolvemos a princípio ir ver o presépio; mas renunciamos logo ao projeto quando soubemos por um oficioso que era a nós que queriam fazer pagar o custo do espetáculo. Em Barbacena, e provavelmente alhures, ninguém paga nada à porta do presépio; mas os atores proclamam honrosamente o nome dos que querem que custeiem a função, e, ao mesmo tempo, apresentam-lhes um prato em que depositam seu dinheiro. Freqüentemente se nomeia um comparsa antes do estrangeiro escolhido para vítima; aquele coloca generosamente no prato uma soma que se lhes restitui depois, e o acanhamento impede a pessoa que não está no segredo de dar menos que os que o precederam. Estavam tão resolvidos a proceder conosco dessa maneira, que o espetáculo deixou de se realizar quando se soube que nós não pretendíamos assisti-lo. Aliás, o espetáculo de Barbacena, freqüentado principalmente por mulheres da má vida, não era mais, ao que parece, senão um lugar de tolerância.
[...]

Fonte: Saint-Hilaire, A. 1975 [1830]. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. BH & SP, Itatiaia & Edusp.

27 junho 2008

Canção elegíaca

Joaquim Cardozo

Quando os teus olhos fecharam
Para o esplendor deste mundo,
Num chão de cinza e fadigas
Hei de ficar de joelhos;
Quando os teus olhos fecharem
Hão de murchar as espigas,
Hão de cegar os espelhos.

Quando os teus olhos fecharem
E as tuas mãos repousarem
No peito frio e deserto,
Hão de morrer as cantigas;
Irá ficar desde e sempre
Entre ilusões inimigas,
Meu coração descoberto.

Ondas do mar – traiçoeiras –
A mim virão, de tão mansas,
Lamber os dedos da mão;
Serenas e comovidas
As águas regressarão
Ao seio das cordilheiras;
Quando os teus olhos fecharem
Hão de sofrer ternamente
Todas as coisas vencidas,
Profundas e prisioneiras;
Hão de cansar as distâncias,
Hão de fugir as bandeiras.

Sopro da vida sem margens,
Fase de impulsos extremos,
O teu hálito irá indo,
Longe e além reproduzindo
Como um vento que passasse
Em paisagens que não vemos;
Nas paisagens dos pintores
Comovendo os girassóis
Perturbando os crisântemos.

O teu ventre será terra
Erma, dormente e tranqüila
De savana e de paul;
Tua nudez será fonte,
Cingida de aurora verde,
A cantar saudade pura
De abril, de sonho, de azul
Fechados no anoitecer.

Fonte: Moriconi, I. 2001. Os cem melhores poemas brasileiros do século. RJ, Objetiva. Poema originalmente publicado em 1960.

25 junho 2008

Todas as vidas

Cora Coralina

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem-feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos.
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim.
Na minha vida –
a vida mera das obscuras.

Fonte: Coralina, C. 2004. Melhores poemas, 2ª edição. SP, Global. Poema originalmente publicado em 1965.

24 junho 2008

Doces e barros


Josefa de Óbidos [Josefa de Ayala Figueira] (1630-1684). Natureza morta com doces e barros. 1676.

Fonte da foto: Universidade de Coimbra.

23 junho 2008

Quarenta mil visitas

F. Ponce de León

No meio do expediente de ontem, domingo, o Poesia contra a guerra superou a marca das 40 mil visitas. Do balanço numérico anterior – ver “Trinta mil visitas”, em 26/3 – até ontem (22/6) ocorreram em média pouco mais de 112 visitas/dia. Também alcançamos um novo recorde positivo de visitantes únicos em um só dia: 185, em 4/6.

20 junho 2008

Diálogo

Dom Dinis

– Ai, flôres, ai, flôres do verde pinho,
se sabedes novas do meu amigo?
ai, Deus, e u é?

Ai, flôres, ai, flôres do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi á jurado!
ai, Deus, e u é?

– Vós me preguntades polo voss’ amigo?
e eu ben vos digo que é sã’ e vivo:
ai, Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss’ amado?
e eu ben vos digo que é viv’ e são:
ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é sã’ e vivo
e seerá vosc’ ant’ o prazo saído.
ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv’ e são
e seerá vosc’ ant’ o prazo passado:
ai, Deus, e u é?

Fonte: Figueiredo, C. 2004. 100 poemas essenciais da língua portuguesa. BH, Editora Leitura. Poema datado do fim do século 13 e início do século 14.

18 junho 2008

Invenção de Orfeu

Jorge de Lima

1.
Um barão assinalado
sem brasão, sem gume e fama
cumpre apenas o seu fado:
amar, louvar sua dama,
dia e noite navegar,
que é de aquém e de além-mar
a ilha que busca e amor que ama.

Nobre apenas de memórias,
vai lembrando de seus dias,
dias que são as histórias,
histórias que são porfias
de passados e futuros,
naufrágios e outros apuros,
descobertas e alegrias.

Alegrias descobertas
ou mesmo achadas, lá vão
a todas as naus alertas
de vaia mastreação,
mastros que apóiam caminhos
a países de outros vinhos.
Está é a ébria embarcação.

Barão ébrio, mas barão,
de manchas condecorado;
entre o mar, o céu e o chão
fala sem ser escutado
a peixes, homens e aves,
bocas e bicos, com chaves,
e ele sem chaves na mão.

2.
A ilha ninguém achou
porque todos o sabíamos.
Mesmo nos olhos havia
uma clara geografia.

Mesmo nesse fim de mar
qualquer ilha se encontrava,
mesmo sem mar e sem fim,
mesmo sem terra e sem mim.

Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmo sem vagas e areias,
há sempre um copo de mar
para um homem navegar.

Nem achada e nem não vista
nem descrita nem viagem,
há aventuras de partidas
porém nunca acontecidas.

Chegados nunca chegamos
eu e a ilha movediça.
Móvel terra, céu incerto,
mundo jamais descoberto.

Indícios de canibais,
sinais de céu e sargaços,
aqui um mundo escondido
geme num búzio perdido.

Rosa-de-ventos na testa,
maré rasa, aljofre, pérolas,
domingos de pascoelas.
E esse veleiro sem velas!

Afinal: ilha de praias.
Quereis outros achamentos
além dessas ventanias
tão tristes, tão alegrias?

3.
E depois das infensas geografias
e do vento indo e vindo nos rosais
e das pedras dormidas e das ramas
e das aves nos ninhos intencionais
e dos sumos maduros e das chuvas
e das coisas contidas nessas coisas
refletidas nas faces dos espelhos
sete vezes por sete renegados,
reinventamos o mar com seus colombos,
e columbas revoando sobre as ondas,
e as ondas envolvendo o peixe, e o peixe
(ó misterioso ser assinalado),
com linguagem dos livros ignorada;
reinventamos o mar para essa ilha
que possui “cabos-não” a ser dobrados
e terras e brasis com boa aguada
para as naves que vão para o oriente.

E demos esse mar às travessias,
e aos mapas-múndi sempre inacabados;
e criamos o convés e o marinheiro
e em torno ao marinheiro a lenda esquiva
que ele quer povoar com seus selvagens.

Empreendemos com a ajuda dos acasos
as travessias nunca projetadas,
sem roteiros, sem mapas e astrolábios
e sem carta a El-Rei contando a viagem.
Bastam velas e dados de jogar
e o salitre nas vigas e o agiológio,
e a fé ardendo em claro, nas bandeiras.
O mais: A meia quilha entre os naufrágios
que tão bastantes varram os pavores.
O mais: Esse farol com o feixe largo
que tão unido varre a embarcação.
Eis o mar: era morto e renasceu.
Eis o mar: era pródigo e o encontrei.
Sua voz? Ó que voz convalescida!
Que lamúrias tão fortes nessas gáveas!
Que coqueiros gemendo em suas palmas!
Que chegar de luares e de redes!

Contemos uma história. Mas que história?
A história mal-dormida de uma viagem.
[...]

Fonte: Lima, J. 1997. Jorge de Lima: poesia, 5ª edição. RJ, Agir. O poema todo é composto de dez cantos (o trecho acima corresponde às três primeiras parte do Canto I, intitulado Fundação da Ilha) e foi originalmente publicado em 1952.

17 junho 2008

Amo-te quanto em largo, alto e profundo

Elizabeth Barrett Browning

Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh’alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte.

Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira. Poema originalmente publicado em 1850.

16 junho 2008

Como trabalha o mineiro

Domitila Barrios de Chungara

Na mina há dois sistemas de trabalho: o do pessoal técnico e o outro, o trabalho do mineiro.

A mina não pára. Trabalha dia e noite. E para isto dividiram os trabalhadores em três turnos. Alguns mudam de turno mensalmente, outros quinzenalmente e outros semanalmente. Meu companheiro, por exemplo, muda de turno cada semana.

Há três turnos por dia. Contando o tempo necessário para entrar à mina no comboio e para sair da escavação, o primeiro turno ingressa às seis da manhã e sai às três da tarde; o segundo entra às duas da tarde e sai às onze da noite e o terceiro entra às dez da noite e sai às seis da manhã.

Quando o trabalhador está no primeiro turno, as mulheres têm que levantar às quatro da manhã para preparar o desjejum ao companheiro. Às três da tarde ele chega da mina e até a esta hora não comeu nada. Porque não tem como levar comida dentro da mina. Não é permitido. Ademais, queimará ao passar por tanto lugares dentro da mina. Há tanto pó, tanto calor, na parte das dinamites que explodem, que, se chegassem a comer algo, comeriam uma coisa que lhes faria mal. Seria necessário organizar tudo de outra maneira. E a empresa diz que não é possível fazer isto. Se a empresa quisesse, poderia fazer corredores limpos e higiênicos ali dentro. Mas não lhe interessa. A empresa outorga estes tratamentos preferenciais aos técnicos. [...]

Fonte: Viezzer, M. 1987 [1978]. “Se me deixam falar...”, Domitila: depoimento de uma mineira boliviana, 13ª edição. SP, Global.

15 junho 2008

Ubu Imperator


Max Ernst (1891-1976). Ubu Imperator. 1923.

Fonte da foto: Olga’s Gallery.

13 junho 2008

Que país é este?

Affonso Romano de Sant’Anna

¿Puedo decir que nos han traicionado? No. ¿Que todos fueram buenos? Tampoco. Pero alli está una buena voluntad, sin duda y sobretodo, el ser así. – César Vallejo

1.
Uma coisa é um país,
outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,
outra um regimento.

Uma coisa é um país,
outra o confinamento.

Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno “Avante”
– e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”
e éramos maiores em tudo
– discursando rios e pretensão.

Uma coisa é um país,
outra um fingimento.

Uma coisa é um país,
outra um monumento.

Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.

Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça
em busca de especiosa raiz? ou deveria
parar de ler jornais
e ler anais
como anal
animal
hiena patética
na merda nacional?
Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo
comendo o que as traças descomem
procurando
o Quinto Império, o primeiro portulano, a viciosa visão do paraíso
que nos impeliu a errar aqui?

Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos
nacionais, como qualquer santo barroco
a rebuscar
no mofo dos papiros, no bolor
das pias batismais, no bodum das vestes reais
a ver o que se salvou com o tempo
e ao mesmo tempo
– nos trai

2.
Há 500 anos caçamos índios e operários,
Há 500 anos queimamos árvores e hereges,
Há 500 anos estupramos livros e mulheres,
Há 500 anos sugamos negras e aluguéis.

Há 500 anos dizemos:
que o futuro a Deus pertence,
que Deus nasceu na Bahia,
que São Jorge é que é guerreiro,
que do amanhã ninguém sabe,
que conosco ninguém pode,
que quem não pode sacode.

Há 500 anos somos pretos de alma branca,
não somos nada violentos,
quem espera sempre alcança
e quem não chora não mama
ou quem tem padrinho vivo
não morre nunca pagão.

Há 500 anos propalamos:
este é o país do futuro,
antes tarde do que nunca,
mais vale quem Deus ajuda
e a Europa ainda se curva.

Há 500 anos
somos raposas verdes
colhendo uvas com os olhos,
semeamos promessa e vento
com tempestades na boca,

sonhamos a paz da Suécia
com suíças militares,

vendemos siris na estrada
e papagaios em Haia,

senzalamos casas-grandes
e sobradamos mocambos,

bebemos cachaça e brahma
joaquim silvério e derrama,

a polícia nos dispersa
e o futebol nos conclama,

cantamos salve-rainhas
e salve-se quem puder,

pois Jesus Cristo nos mata
num carnaval de mulatas.

Este é um país de síndicos em geral,
este é um país de cínicos em geral,
este é um país de civis e generais.

Este é o país do descontínuo
onde nada congemina,
e somos índios perdidos
na eletrônica oficina.

Nada nada congemina:
a mão leve do político
com nossa dura rotina,

o salário que nos come
e nossa sede canina,

a esperança que emparedam
e a nossa fé em ruína,

nada nada congemina:
a placidez desses santos
e nossa dor peregrina,

e nesse mundo às avessas
– a cor da noite é obsclara
e a claridez vespertina.

3.
Sei que há outras pátrias. Mas
mato o touro nesta Espanha,
planto o lodo neste Nilo,
caço o almoço nesta Zâmbia,
me batizo neste Ganges,
vivo eterno em meu Nepal.

Esta é a rua em que brinquei,
a bola de meia que chutei,
a cabra-cega que encontrei,
o passa-anel que repassei,
a carniça que pulei.

Este é o país que pude
que me deram
e ao que me dei,
e é possível que por ele, imerecido,
– ainda morrerei.

4.
Minha geração se fez de terços e rosários:
– um terço se exilou
– um terço se fuzilou
– um terço desesperou

e nessa missa enganosa
– houve sangue e desamor. Por isto,
canto-o-chão mais áspero e cato-me
ao nível da emoção.

Caí de quatro
animal

sem compaixão.

Uma coisa é um país,
outra uma cicatriz.

Uma coisa é um país,
outra a abatida cerviz.

Uma coisa é um país,
outra esses duros perfis.

Deveria eu catar os que sobraram
os que se arrependeram,
os que sobreviveram em suas tocas
e num seminário de erradios ratos
suplicar:
– expliquem-me a mim
e ao meu país?

Vivo no século vinte, sigo para o vinte e um
ainda preso ao dezenove
como um tonto guarani
e aldeado vacum. Sei que daqui a pouco
não haverá mais país.

País:
loucura de quantos generais a cavalo
escalpelando índios nos murais,
queimando caravelas e livros
– nas fogueiras e cais,
homens gordos melosos sorrisos comensais
politicando subúrbios e arando votos
e benesses nos palanques oficiais.

Leio, releio os exegetas.
Quanto mais leio, descreio. Insisto?
Deve ser um mal do século
– se não for um mal de vista.

Já pensei: – é erro meu. Não nasci no tempo certo.
Em vez de um poeta crente
sou um profeta ateu.
Em vez da epopéia nobre,
os de meu tempo me legam
como tema
– a farsa
e o amargo riso plebeu.

5.
Mas sigo o meu trilho. Falo o que sinto
e sinto muito o que falo
– pois morro sempre que calo.
Minha geração se fez de lições mal-aprendidas
– e classes despreparadas
Olhávamos ávidos o calendário. Éramos jovens.
Tínhamos a “história” ao nosso lado. Muitos
maduravam um rubro outubro
outros iam ardendo um torpe
agosto.
Mas nem sempre ao verde abril
se segue a flor de maio.
Às vezes se segue o fosso
– e o roer do magro osso.
E o que era revolução outrora
agora passa à convulsão inglória.
E enquanto ardíamos a derrota como escória
e os vencedores nos palácios espocavam seus champanhas sobre a aurora
o reprovado aluno aprendia
com quantos paus se faz a derrisória estória.
Convertidos em alvo e presa da real caçada
abriu-se embandeirado
um festival de caça aos pombos
– enquanto raiava sangüínea e fresca a madrugada.

Os mais afoitos e desesperados
em vez de regressarem como eu
sobre os covardes passos,
e em vez de abrirem suas tendas para a fome dos desertos,
seguiram no horizonte uma miragem
e logo da luta
passaram
ao luto.

Vi-os lubrificando suas armas
e os vi tombados pelas ruas e grutas.
Vi-os arrebatando louros e mulheres
e serem sepultados às ocultas.
Vi-os pisando o palco da tropical tragédia
e por mais que os advertisse do inevitável final
não pude lhes poupar o sangue e o ritual.

Hoje
os que sobraram vivem em escuras
e européias alamedas, em subterrâneos
de saudade, aspirando a um chão-de-estrelas,
plangendo um violão com seu violado desejo
a colher flores em suecos cemitérios.

Talvez
todo o país seja apenas um ajuntamento
e o conseqüente aviltamento
– e uma insolvente cicatriz.

Mas este é o que me deram,
e este é o que eu lamento,
e é neste que espero
– livrar-me do meu tormento.

Meu problema, parece, é mesmo de princípio:
– do prazer e da realidade
– que eu pensava
com o tempo resolver
– mas só agrava com a idade.

Há quem se ajuste
engolindo seu fel com mel.
Eu escrevo o desajuste
vomitando no papel.

6.
Mas este é um povo bom
me pedem que repita
como um monge cenobita
enquanto me dão porrada
e me vigiam a escrita.
Sim. Este é um povo bom. Mas isto também diziam
os faraós
enquanto amassavam o barro da carne escrava.
Isso digo toda noite
enquanto me assaltam a casa,
isso digo
aos montes em desalento
enquanto recolho meu sermão ao vento.

Povo. Como cicatrizar nas faces sua imagem perversa e una?
Desconfio muito do povo. O povo, com razão,
– desconfia muito de mim.

Estivemos juntos na praça, na trapaça e na desgraça,
mas ele não me entende
– nem eu posso convertê-lo.
A menos que suba estádios, antenas, montanhas
e com três mentiras eternas
o seduza para além da ordem moral.

Quando cruzamos pelas ruas
não vejo nenhum carinho ou especial predileção nos seus olhos.
Há antes incômoda suspeita. Agarro documentos, embrulhos, família
a prevenir mal-entendidos sangrentos.

Daí vejo as manchetes:
– o poeta que matou o povo
– o povo que só/çobrou ao poeta
– (ou o poeta apesar do povo?)

– Eles não vão te perdoar
– me adverte o exegeta.
Mas como um país não é a soma de rios, leis, nomes de ruas, questionários e geladeiras,
e a cidade do interior não é apenas gás néon, quermesse e fonte luminosa,
uma mulher também não é só capa de revista, bundas e peitos fingindo que é coisa nossa.
Povo
também são os falsários
e não apenas os operários,
povo
também são os sifilíticos
não só atletas e políticos,
povo
são as bichas, putas e artistas
e não só os escoteiros
e heróis de falsas lutas,
são as costureiras e dondocas
e os carcereiros
e os que estão nos eitos e docas.

Assim como uma religião não se faz só de missas na matriz,
mas de mártires e esmolas, muito sangue e cicatriz,
a escravidão
para resgatar os ferros de seus ombros
requer
poetas negros que refaçam seus palmares e quilombos.

Um país não pode ser só a soma
de censuras redondas e quilômetros
quadrados de aventura, e o povo

não é nada novo
– é um ovo
que ora gera e degenera
que pode ser coisa viva
– ou ave torta

depende de quem o põe
– ou quem o gala.

7.
Percebo
que não sou um poeta brasileiro. Sequer
um poeta mineiro. Não há fazendas, morros,
casas velhas, barroquismos nos meus versos.

Embora meu pai viesse de Ouro Preto com bandas de música polícia militar casos de assombração e uma calma milenar,
embora minha mãe fosse imigrando hortaliças protestantes
tecendo filhos nas fábricas e amassando a fé e o pão,
olho Minas com um amor distante,
como se eu, e não minha mulher
– fosse um poeta etíope.

Fácil não era apenas ao tempo das arcádias
entre cupidos e sanfoninhas,
fácil também era ao tempo dos partidos:
– o poeta sabia “história”
vivia em sua “célula”,
o povo era seu hobby e profissão,
o povo era seu cristo e salvação.

O povo, no entanto, é o cão
e o patrão
– o lobo. Ambos são povo.
E o povo sendo ambíguo
é o seu próprio cão e lobo.

Uma coisa é o povo, outra a fome.
Se chamais povo à malta de famintos,
se chamais povo à marcha regular das armas,
se chamais povo aos urros e silvos no esporte popular

então mais amo uma manada de búfalos em Marajó
e diferença já não há
entre as formigas que devastam minha horta
e as hordas de gafanhoto de 1948
– que em carnaval de fome
o próprio povo celebrou.

Povo
não pode ser sempre o coletivo de fome.
Povo
não pode ser um séquito sem nome.
Povo
não pode ser o diminutivo de homem.
O povo, aliás,
deve estar cansado desse nome,
embora seu instinto o leve à agressão
e embora
o aumentativo de fome
possa ser
revolução.

Fonte: Pinto, J. N. 2004. Os cem melhores poetas brasileiros do século, 2ª edição. SP, Geração Editorial. Poema originalmente publicado em 1980, e cujo título vem seguido pela dedicatória: “para Raymundo Faoro”.

12 junho 2008

Vinte meses no ar

F. Ponce de León

Nesta quinta-feira, 12/6, o Poesia contra a guerra completa um ano e oito meses no ar. Ao fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue indicava que 38.829 visitas haviam sido registradas.

Desde o balanço mensal anterior – Um ano e sete meses no ar – foram ao ar textos dos seguintes autores: Adriano Espíndola, Affonso Ávila, Al Berto, Alda Lara, Arturo Carrera, Barry Commoner, Dantas Motta, Helder Macedo, Hipócrates, Horst Rieck, Jack London, Jean Piaget, José Asunción Silva, Kai Hermann, Michael Goulding, Peter Sinfield, Raúl Zurita, Salette Tavares e William Blake. Além de outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens dos seguintes pintores: Alfred Sisley, Artemisia Gentileschi, Berthe Morisot, Camille Pissarro e Frédéric Bazille.

11 junho 2008

And did those feet in ancient time

William Blake

And did those feet in ancient time,
Walk upon England’s mountains green:
And was the holy Lamb of God,
On England’s pleasant pastures seen!

And did the Countenance Divine,
Shine forth upon our clouded hills?
And was Jerusalem builded here,
Among these dark Satanic Mills?

Bring me my Bow of burning gold;
Bring me my Arrows of desire:
Bring me my Spear: O clouds unfold:
Bring me my Chariot of fire!

I will not cease from Mental Fight,
Nor shall my Sword sleep in my hand,
Till we have built Jerusalem,
In England’s green & pleasant Land.

Fonte: capa do álbum Brain salad surgery (1973), do Emerson, Lake & Palmer. Poema originalmente publicado em 1808; em 1916, versão musicada – referida como “Jerusalem” – foi composta por Hubert Parry. Além de escritor e poeta, Blake foi também pintor; ver aqui.

10 junho 2008

Aforismos

Hipócrates

1.
Uma doença em que o sono faz mal é mortal; a moléstia em que o sono alivia não o é.

2.
O sono que faz passar o delírio, é bom sintoma.

3.
O sono e a insônia, quando imoderados, são maus.

4.
Nem a saciedade, nem o apetite, nem nada que seja além do natural é bom.

5.
A fadiga não provocada indica moléstia.

6.
Quem, tendo uma afecção dolorosa, em qualquer parte do corpo, não sente em grande parte essa dor, está com o espírito doente.

7.
Os doentes emagrecidos lentamente devem ser restaurados também lentamente, os emagrecidos rapidamente podem ser recuperados também rapidamente.

8.
Se um convalescente continua fraco e come, é sinal de que se alimenta demasiadamente; se continua fraco e não come, isto mostra que necessita evacuação.

9.
Quando se quer purgar, deve-se dispor o corpo e estar bem fluente.

10.
Quanto mais nutrirdes os corpos que não estejam puros, mais os prejudicareis.
[...]

Fonte: Hipócrates. 2004. Aforismos. SP, Martin Claret. O trecho acima corresponde ao início da segunda seção da obra, apresentada em sete seções. O original data do século 5 ou 4 a.C.

09 junho 2008

Atelier


Frédéric Bazille (1841-1870). L’atelier de la rue Condamine. 1870.

Fonte da foto: Wikipedia.

08 junho 2008

Eu, Christiane F.

Kai Hermann & Horst Rieck

Era uma excitação louca. Minha mãe passava os seus dias a empacotar, a encher caixotes e malas. Eu percebia que íamos começar uma vida nova.

Acabava de completar seis anos, e depois da mudança entraria para a escola primária. Enquanto minha mãe, cada vez mais nervosa, se dava ao trabalho de empacotar tudo, eu ficava quase o dia inteiro na casa de Völkel, o fazendeiro. Esperava as vacas voltarem para o estábulo para serem ordenhadas, dava comida aos porcos e às galinhas, rolava no feno com meus amigos e passeava com os gatinhos no colo. Um verão maravilhoso, o primeiro do qual tive plena consciência.
[...]

Fonte: Hermann, K. & Rieck, H. [1991?] [1978]. Eu, Christiane F., treze anos, drogada, prostituída. SP, Círculo do Livro.

07 junho 2008

Os olhos colheram o fogo das paisagens

Salette Tavares

Os olhos colheram o fogo das paisagens
o vasto do rio
o oceano
o porto
o rosto do casario.

Os dedos teceram o tempo longo
emaranharam os dias com os anos
e as luzes de várias horas decorridas.
Despido o cansaço o peso
cresceu a febre das rosas
das laranjeiras. Frutos muitos
encheram de aroma
a terra regada
a relva encharcada
as paredes ressumando água.

A vida toda para receber a morte
ao sol duro, e forte.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema originalmente publicado em 1992.

06 junho 2008

In extremis

Olavo Bilac

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! Postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados...

E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...

E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! e este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...

Eu, com o frio a crescer no coração, – tão cheio
De ti, até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!

E eu morrendo! e eu morrendo,
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! a delícia da vida!

Fonte: Bilac, O. 1985. Poesias. BH, Itatiaia. Poema originalmente publicado em 1888.

05 junho 2008

Antifamília

Affonso Ávila

... o inveterado costume de sensualidade destas Minas.” – Dom Frei Antônio de Guadalupe (Determinação pastoral de 2 de dezembro de 1726)

Com seus responsos
(com seus esconsos
de missa e beatismo
de omisso batismo

de sons velados e glórias
de sonegada história

as filhas de Maria
os filhos de Marília)


Com seus brasões
(com seus bastardos

de terras e franquias
de secreta família

de empáfia e de ancestrais
de ímpia mancebia

o pai dos Melo Franco
o padre Melo Franco)


Com seu morgadio
(com seu moradio

de alta e ornada homilia
de alternada comida

de reses e armada fama
de revezada cama

o ar másculo de Joaquina
os amásios de Joaquina)


Com sua reação
(com suas relações

de perverso sarcasmo
de controverso caso

de cínico escravismo
de insinuado vício

o cérebro ágil de Vasconcelos
o celibato de Vasconcelos)


Com sua docência
(com sua ciência

de versados políticos
de versáteis polacas

de óbvios humoristas
de hábeis humanistas

as academias do Olimpo
o cabaré da Olympia)


Com suas astúcias
(com suas estufas

de espórtulas à Virgem
de espoliadas virgens

de preço a cada homem
de pregustados hímens

os votos de Luciano
os ócios de Luciano)


Com sua fala-cívica
(com sua lascívia

de metáforas e ungüento
de amestradas línguas

de arquicifras e ênfase
de reversíveis fêmeas

a demagogia do presidente
as orgias do presidente)


Com suas bandinhas
(com suas blandícias

de aplausos e votos
de falseada voz

de súplicas e séquito
de suspeitoso sexo

os efêmeros ministros
os efebos do ministro)


Com suas poses
(com suas apostas

de pai-da-pátria
de páreo a páreo

de cavaleiro-do-mérito
de caviloso método

a roupa preta do senador
a roleta do senador)


Com sua retórica
(com suas retortas

de diz-que de urge-que
de uísque e uísque

de eis-que de pois-que
de uísque e uísque

o ar degas do deputado
as adegas do deputado)


Com sua crosta
(com sua crônica

de cera e diamantes
de seriados amantes

de recintados balofos
de reincidentes abortos

as deselegantes senhoras
as dezmaiselegantes senhoras)


Com seus opostos
(com seus opróbrios

de usura e de abuso
de usurário abuso

de clausura e de uso
de enclausurado uso

a família mineira
a antifamília mineira)


Fonte: Moriconi, I. 2001. Os cem melhores poemas brasileiros do século. RJ, Objetiva. Poema originalmente publicado em 1969.

04 junho 2008

Biologia e conhecimento

Jean Piaget

6.
Podem-se distinguir, do ponto de vista dos problemas biológicos que suscitam, três formas de conhecimento, resultantes do exercício das funções cognoscitivas no homem, ao menos a partir de certo nível de civilização. Em primeiro lugar, há a imensa categoria dos conhecimentos adquiridos graças à experiência física em todas as suas formas, isto é, a experiência dos objetos e de suas relações, mas com abstração a partir dos objetos como tais. Vê-se imediatamente que se trata neste caso da extensão indefinida das condutas de aprendizagem ou de inteligência prática, porém com todos os tipos de novidades que devem ser explicadas. Em segundo lugar, há a categoria, notavelmente estreita, e mesmo de extensão real muito discutível, dos conhecimentos estruturados por uma programação hereditária, como é talvez o caso de certas estruturas perceptivas (visão das cores, duas ou três dimensões do espaço etc.). O caráter restrito dessa segunda categoria levanta imediatamente um grande problema biológico, pelo contraste com a riqueza dos instintos nos animais. Em terceiro lugar, há a categoria, pelo menos tão extensa quanto a primeira, dos conhecimentos lógico-matemáticos, que se tornam rapidamente independentes da experiência e que, se no início procedem dela, não parecem tirados dos objetos como tais mas das coordenações gerais das ações exercidas pelo sujeito sobre os objetos.
[...]

Fonte: Piaget, J. 1973 [1967]. Biologia e conhecimento. Petrópolis, Vozes.

03 junho 2008

A lição


Alfred Sisley (1839-1899). La leçon. 1874.

Fonte da foto: Olga’s Gallery.

02 junho 2008

Primeiro canto dos rios

Raúl Zurita

O amor... esse é o amor
Ai esse é o amor

Ai esse é o amor que choramos tanto... soltam-
se os rios que se amam... caindo

Em borrascas céu abaixo torcendo-se sobre
os prados que choravam mirando-se... Nós
somos as montanhas que choravam mirando-se dizem
os rios que as chamavam... arrastando-as

Corrente abaixo... por trás dos imensos prados que
os ventos subiam... Os que souberam a dor
dessas montanhas vão dizendo os imensos
prados do céu... Somos todos os pastos des-
te mundo... respondem-lhes soltando-se os rios
que vêm abertos... rompendo-se

Fonte: Costa, H. 1992. Antologia de poesia hispano-americana atual. Revista USP 13: 186-205.

01 junho 2008

21st century schizoid man

Peter Sinfield

Cat’s foot iron claw
Neuro-surgeons scream for more
At paranoia’s poison door
Twenty first century schizoid man.

Blood rack barbed wire
Politicians’ funeral pyre
Innocents raped with napalm fire
Twenty first century schizoid man.

Death seed blind man’s greed
Poets’ starving children bleed
Nothing he’s got he really needs
Twenty first century schizoid man.

Fonte: capa do álbum In the court of the Crimson King (1969), do King Crimson.

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