18 setembro 2008

A primeira ilha

Iacyr Anderson Freitas

a primeira ilha
o incêndio de tróia ardendo no meu corpo
a queda do primeiro fruto
a morte em cartago ou cajamarca
essa morte que vem como uma festa para os olhos
vem clamando aos povos
convocando adão antes da queda
buscando-o para a luz do dia
clara como um sino
o que se escreveu antes do verbo
as águas do aqueronte devorando meus filhos
os filhos que sepultei
invadindo as épulas com seu fedor e usura
a infância do eterno
os anéis de batismo que foram de um santo
e que são minha infância agora
o passado que tem o meu nome e a minha idade
o passado que sou eu e o esquecimento
dos que me precederam no sangue
a manhã primeira do exílio
os olhos os terríveis olhos de circe
o enterro de argos soando em copacabana
um homem que pensa outro homem na américa
um signo que não morreu de todo
e que esplende como um deus no vestíbulo
um signo que é toda a infância
todo o deserto
sísifo condenado à busca da pedra e do monte

: todo exílio que sou eu e que se esgotará comigo

Fonte: Freitas, I. A. 2007. Primeiras letras. SP & Juiz de Fora, Nankin & Funalfa.

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