19 outubro 2008

Se acaso aqui topares, caminhante

Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha

Se acaso aqui topares, caminhante,
Meu frio corpo já cadáver feito,
Leva piedoso com sentido aspeito
Esta nova ao esposo aflito, errante...

Diz-lhe como de ferro penetrante
Me viste por fiel cravado o peito,
Lacerado, insepulto, e já sujeito
O tronco feio ao corvo altivolante:

Que dum monstro inumano, lhe declara,
A mão cruel me trata desta sorte;
Porém que alívio busque à dor amara.

Lembrando-se que teve uma consorte,
Que por honra da fé que lhe jurara,
À mancha conjugal prefere a morte.

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 2, 2ª edição. SP, Cultrix & Edusp. Poema – com a dedicatória ‘À mameluca Maria Bárbara, mulher de um soldado, cruelmente assassinada no caminho da Fonte do Marco, perto desta cidade de Belém, porque preferiu à morte à mancha de infiel ao seu esposo’ – originalmente publicado em 1850.

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