11 janeiro 2009

A ciência desde a Babilônia

Derek de Solla Price

9.
A palavra ‘idiota’ provém do grego idiotes, uma pessoa, um leigo, um não-profissional, desqualificado por condição ou criação, para participar do que a humanidade apresentava, então, de mais elevado – a vivência da democracia política. Aquela palavra, hoje lamentavelmente deturpada, poderia voltar a ser usada para descrever os modernos idiotas científicos – homens educados que desviam da ciência os seus olhos e mostram aversão pelo que consideram um ridículo cerimonial de incompreensibilidade a rodear um novo ponto culminante da civilização: suas ciências e as tecnologias a elas associadas.

O idiotismo científico da cultura moderna já foi diagnosticado por muitos anatomistas do atual e melancólico estado de coisas – por Sir Eric Ashby, Jacques Barzun, Herbert Butterfield, George Sarton e Sir Charles Snow, para mencionar apenas alguns dentre eles. Parece haver concordância geral em que é má qualquer separação entre as ciências e as humanidades. A separação deve desaparecer ou devemos considerar que não existe, entendendo que as ciências são humanidades ou que as humanidades são ciência. Nosso sistema educacional vem falhando por produzir graduados aos quais bem poderiam ser fornecidos certificados de ignorância – ou em humanidades ou em ciência. Nossos cientistas e humanistas vêm-se tornando ineficazes diante das exigências da civilização e do saber, por falta de conhecimento acerca das duas áreas.
[...]

Fonte: Price, D. S. 1976 [1961]. A ciência desde a Babilônia. BH & SP, Itatiaia & Edusp.

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