01 abril 2009

Elogio da diferença

Albert Jacquard

É próprio do homem transformar o que o rodeia, é da sua natureza viver artificialmente. Em seu proveito manipula o meio em que vive e consegue modificar as espécies vegetais ou animais que lhe são úteis. Baseada num conhecimento cada vez mais exacto dos mecanismos do mundo inanimado e do mundo vivo, a sua acção tornou-se cada vez mais eficaz. Por que não utilizar esse poder novo para atingir um objectivo mais fascinante: melhorar o próprio homem?

Esta ideia é muito antiga. A humanidade não é apenas responsável pela sua transformação moral ou espiritual, pelo seu encaminhamento para uma civilização melhor, é-o também pelo seu devir biológico. Egípcios, Hebreus e Gregos já tinham a preocupação de preservar a sua ‘raça’ de uma eventual degenerescência, de melhorar, se não o conjunto, pelo menos uma parte do grupo, de conseguir um homem novo, dotado de faculdades superiores. O abandono, no século 19, das teorias fixistas, que viam em cada espécie uma criação específica, definitiva, de Deus, a descoberta do processo de transmissão das características biológicas entre gerações e o conhecimento progressivamente aperfeiçoado da ligação entre a composição do património genético e os caracteres manifestados pelo indivíduo permitiram novas esperanças: iremos, finalmente, transformar-nos em ‘novos Pigmaliões’, modelando a nossa própria espécie?
[...]

Fonte: Jacquard, A. s/d [1978]. Elogio da diferença: a genética e os homens. Lisboa, Publicações Europa-América.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker