10 julho 2009

A evolução criadora

Henri Bergson

1.
A existência de que estamos mais seguros e que melhor conhecemos é incontestavelmente a nossa, pois de todos os demais objetos temos noções que poderemos julgar exteriores e superficiais, ao passo que percebemo-nos por dentro, profundamente. E que verificamos? Que vem a ser, nesse caso privilegiado, o sentido preciso da palavra ‘existir’? [...]

Primeiro verifico que passo de um estado a outro. Sinto calor ou frio, estou alegre ou triste, trabalho ou nada faço, penso no que me cerca ou em coisa diferente. Sensações, sentimentos, volições, representações, eis as modificações entre as quais minha existência se divide e que a matizam alternadamente. Portanto, estou mudando incessantemente. Mas isso não é tudo. A mudança é muito mais radical do que se acreditaria a princípio.
[...]
Assim é que nossa personalidade avança, aumenta, amadurece sem cessar. Cada um de seus momentos é novidade que se acrescenta ao que era antes. Sigamos mais além: não se trata apenas da novidade, mas da imprevisibilidade. [...] Ora, tal é o caso de cada um de nossos estados, encarado como um momento de uma história que se desenrola: é simples, não pode ter sido percebido, dado que concentra em sua indivisibilidade, em acréscimo, todo o percebido com o que o presente lha adiciona. É um momento original de uma história não menos original.
[...]

Fonte: Bergson, H. 1979 [1907]. A evolução criadora. RJ, Zahar.

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