06 agosto 2009

A um camundongo

Robert Burns

1.
Suave, encolhido, tímido animalzinho,
Oh, que terror se aperta em teu peitinho!
Não precisas te precipitar
Em temerosa corrida!
Eu não desejava te arreliar e perseguir
Com enxadão assassino!

2.
Sincero lastimo a humana dominação
A quebrar da Natureza a social união,
E a justificar tão má opinião
Que o faz saltar
Longe de mim, teu pobre companheiro
Terreno e mortal!

3.
Não duvido, tu és o meu ladrão;
E então? animalzinho, precisas sobreviver!
Um grãozinho de milho num monte de grãos
É pequena requisição:
Será uma dádiva o que me deixares
Nunca sentirei o que me roubares!

4.
E tua casinhola, também em ruínas!
Seus tolos muros pelos ventos carregados!
E nada já para construir-te uma nova,
Mesmo de áspero capim!
E em dezembro, as invernais ventanias
Aparecem, cortantes e severas!

5.
Tu viste os campos desertos, devastados,
E o árido inverno rápido chegado,
E comodamente, sob os vendavais,
Aqui pensaste em habitar!
Até que um som cruel cortou numa fatia
Crash! A tua morada.

6.
Este feixe de folhas e restolhos,
Como te custou exaustivos bocados,
Agora foste expulso, apesar dos cuidados,
Sem abrigo nem casa ter,
A suportar chuvosa e fria geada,
E a terra sentir congelada!

7.
Mas camundonguinho, tu não estás sozinho
Ter precaução pode ser algo bem vão:
Os melhores planos de ratos e homens
Por vezes se arruínam
Deixando-nos imersos em tristeza e dor
Em lugar da prometida alegria!

8.
És contudo feliz se comigo comparado!
Pois tão-somente o presente observas:
Enquanto eu, oh! quando para trás olho
Só planos frustrados enxergo!
E quando olho para frente nada vejo,
Senão maus augúrios, e estremeço!

Fonte: Burns, R. 1994. 50 poemas. RJ, Relume-Dumará. Poema – cujo subtítulo é “Ao revirá-la no seu ninho com o arado” – originalmente publicado em 1786.

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