31 março 2010

Aves de arribação

Casto Alves

Pensava em ti nas horas de tristeza,
Quando estes versos pálidos compus,
Cercavam-me planícies sem beleza,
Pesava-me na fronte um céu sem luz.

Ergue este ramo solto no caminho
Sei que em teu seio asilo encontrará.
Só tu conheces o secreto espinho
Que dentro d’alma me pungindo está.
Fagundes Varela

Aves, é primavera! à rosa! à rosa!
Tomás Ribeiro

1.
Era o tempo em que as ágeis andorinhas
Consultam-se na beira dos telhados,
E inquietas conversam, perscrutando
Os pardos horizontes carregados...

Em que as rolas e os verdes periquitos
Do fundo do sertão descem cantando...
Em que a tribo das aves peregrinas
Os Zíngaros do céu formam-se em bando!

Viajar! Viajar! A brisa morna
Traz de outro clima os cheiros provocantes.
A primavera desafia as asas,
Voam os passarinhos e os amantes!...

2.
Um dia Eles chegaram. Sobre a estrada
Abriram à tardinha as persianas;
E mais festiva a habitação sorria
Sob os festões das trêmulas lianas.

Quem eram? Donde vinham? – Pouco importa
Quem fossem da casinha os habitantes.
– São noivos; – as mulheres murmuravam!
E os pássaros diziam: – São amantes – !

Eram vozes – que uniam-se co’as brisas!
Eram risos – que abriam-se co’as flores!
Eram mais dois clarões – na primavera!
Na festa universal – mais dous amores!

Astros! Falai daqueles olhos brandos,
Trepadeiras! Falai-lhe dos cabelos!
Ninhos d’aves! Dizei, naquele seio,
Como era doce um pipilar d’anelos.

Sei que ali se ocultava a mocidade...
Que o idílio cantava noite e dia...
E a casa branca à beira do caminho
Era o asilo do amor e da poesia.

Quando a noite enrolava os descampados,
O monte, a selva, a choça do serrano,
Ouviam-se, alongando à paz dos ermos,
Os sons doces, plangentes de um piano.

Depois suave, plena, harmoniosa
Uma voz de mulher se alevantava...
E o pássaro inclinava-se das ramas
E a estrela do infinito se inclinava.

E a voz cantava o tremolo medroso
De uma ideal sentida barcarola...
Ou nos ombros da noite desfolhava
As notas petulantes da Espanhola!

3.
Às vezes, quando o sol nas matas virgens
A fogueira das tardes acendia,
E como a ave ferida ensangüentava
Os píncaros da longa serrania,

Um grupo destacava-se amoroso,
Tendo por tela a opala do infinito,
Dupla estátua do amor e mocidade
Num pedestal de musgos e granito.

E embaixo o vale a descantar saudoso
Na cantiga das moças lavadeiras!...
E o riacho a sonhar nas canas bravas.
E o vento a s’embalar nas trepadeiras.

Ó crepúsculos mortos! Voz dos ermos!
Montes azuis! Sussurros da floresta!
Quando mais vós tereis tantos afetos
Vicejando convosco em vossa festa?...

E o sol poente inda lançava um raio
Do caçador na longa carabina...
E sobre a fronte d’Ela por diadema
Nascia ao longe a estrela vespertina.

4.
É noite! Treme a lâmpada medrosa
Velando a longa noite do poeta...
Além, sob as cortinas transparentes,
Ela dorme... formosa Julieta!

Entram pela janela quase aberta
Da meia-noite os preguiçosos ventos
E a lua beija o seio alvinitente
– Flor que abrira das noites aos relentos.

O Poeta trabalha!... A fronte pálida
Guarda talvez fatídica tristeza...
Que importa? A inspiração lhe acende o verso
Tendo por musa – o amor e a natureza!

E como o cáctus desabrocha a medo
Das noites tropicais na mansa calma,
A estrofe entreabre a pétala mimosa
Perfumada da essência de sua alma.

No entanto Ela desperta... num sorriso
Ensaia um beijo que perfuma a brisa...
... A Casta-diva apaga-se nos montes...
Luar de amor! acorda-te, Adalgisa!

5.
Hoje a casinha já não abre à tarde
Sobre a estrada as alegres persianas.
Os ninhos desabaram... no abandono
Murcharam-se as grinaldas de lianas.

Que é feito do viver daqueles tempos?
Onde estão da casinha os habitantes?
... A Primavera, que arrebata as asas...
Levou-lhe os passarinhos e os amantes!...

Fonte: Alves, C. 1990. Poemas, 8ª edição. RJ, Agir. Poema publicado em livro em 1870.

29 março 2010

Morte e chocolate

Markus Zusak

Primeiro, as cores.
Depois, os humanos.
Em geral, é assim que vejo as coisas.
Ou, pelo menos, é o que tento.

EIS UM PEQUENO FATO
Você vai morrer.

Com absoluta sinceridade, tento ser otimista a respeito de todo esse assunto, embora a maioria das pessoas sinta-se impedida de acreditar em mim, sejam quais forem meus protestos. Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo.

REAÇÃO AO FATO SUPRACITADO
Isso preocupa você?
Insisto – não tenha medo.
Sou tudo, menos injusta.

– É claro, uma apresentação.
Um começo.
Onde estão meus bons modos?
Eu poderia me apresentar apropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama bem diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, em me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível. Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora gentilmente.

Nesse momento, você estará deitado(a). (Raras vezes encontro pessoas de pé.) Estará solidificado em seu corpo. Talvez haja uma descoberta; um grito pingará pelo ar. O único som que ouvirei depois disso será minha própria respiração, além do som do cheiro de meus passos.

A pergunta é: qual será a cor de tudo nesse momento em que eu chegar para buscar você? Que dirá o céu?

Pessoalmente, gosto do céu cor de chocolate. Chocolate escuro, bem escuro. As pessoas dizem que ele condiz comigo. Mas procuro gostar de todas as cores que vejo – o espectro inteiro. Um bilhão de sabores, mais ou menos, nenhum deles exatamente igual, e um céu para chupar devagarinho. Tira a contundência da tensão. Ajuda-me a relaxar.
[...]

Fonte: Zusak, M. 2007. A menina que roubava livros. RJ, Intrínseca.

27 março 2010

Lua girou

Folclore baiano

A lua girou, girou
Traçou no céu um compasso
Eu bem queria fazer
Um travesseiro dos seus braços
Eu bem queria fazer
Travesseiro dos meus braços
Só não faz se não quiser
Sustenta a palavra de homem
Que eu mantenho a de mulher
Sustenta a palavra de homem

Fonte: encarte do álbum Geraes (1976), de Milton Nascimento.

24 março 2010

A noite


Max Beckmann (1884-1950). Die nacht. 1918-1919.

Fonte da foto: The Artchive.

22 março 2010

Gigantes da física

Richard Brennan

[Prefácio]
Mencione as palavras física e história na mesma frase e os olhos do leitor mediano vão perder o brilho. No entanto, a história da evolução do pensamento humano, especialmente na física, é uma crônica dramática repleta de personagens curiosos e descobertas empolgantes. O objetivo fundamental deste livro é mostrar que física e história podem ser ao mesmo tempo estimulantes e incitadoras do pensamento.

Este livro apresenta retratos de oito físicos [Isaac Newton, Albert Einstein, Max Planck, Ernest Rutherford, Niels Bohr, Werner Heisenberg, Richard Feynman e Murray Gell-Mann] que contribuíram de maneira relevante para a revolução que ocorreu na física no século 20 e levou a toda uma compreensão da realidade – das leis do universo. A física é a ciência que trata da matéria, da energia, do movimento e da força – indo desde a imensidão do cosmo até a menor partícula indivisível da natureza. Como atividade intelectual, ela é a busca das leis fundamentais da natureza e nenhum fenômeno no universo lhe é alheio. A abrangência de nosso tema, portanto, depende da capacidade que tenhamos, como escritor e leitor, de expandir nossas imaginações.
[...]

Fonte: Brennan, R. 1998. Gigantes da física. RJ, Jorge Zahar.

20 março 2010

Mãe

Caetano Veloso

Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses, não
Imensa solidão

Eu sou um rei que não tem fim
Que brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração

Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tem amor
Cigarra, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor

Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais, nem vou

Meninos, ondas, becos, mãe
E, só porque não estás
És para mim e nada mais
Na boca das manhãs

Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti

Fonte: encarte do álbum Água viva (1978), de Gal Costa.

17 março 2010

Ao desconcerto humanamente aberto

Jorge de Sena

Ao desconcerto humanamente aberto
entendo e sinto: as coisas são reais
como meus olhos que as olharam tais
a luz ou treva que há no tempo certo.

De olhá-las muito não as vejo mais
que a luz mutável com que a treva perto
sempre outras as confunde: entreaberto,
menos que humano, só verei sinais.

E sinta que as pensei, ou que as senti
eu pense, ou julgue nos sinais que vi
ler a harmonia, como ali surpresa,

oculta que era para eu vê-la agora,
meu desconcerto é o desconcerto fora,
e Deus um só pudor da Natureza.

Fonte: Melo e Castro, E. M. 1973. O próprio poético. SP, Quíron. Poema publicado em livro em 1955.

15 março 2010

O retrato de Dorian Gray


Ivan Albright (1897-1983). The picture of Dorian Gray. 1943.

Fonte: Wikipedia.

13 março 2010

Quarenta e um meses no ar

F. Ponce de León

Nessa sexta-feira, 12/3, o Poesia contra a guerra completou quarenta e um meses no ar. Ao fim do expediente de anteontem, o contador instalado no blogue indicava que 87.650 visitas haviam sido registradas nesse período.

Desde o balanço mensal anterior – Quarenta meses no ar – foram aqui publicados textos dos seguintes autores: Christine M. Janis, F. Harvey Pough, François Jacob, Ildásio Tavares, John B. Heiser, Liberto Cruz, Natalie Merchant, Neusa Sorrenti, Rubem Braga, Scott Westerfeld e Steven Weinberg. Além de outros autores que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens dos seguintes pintores: Alvar Cawén e Paula Modersohn-Becker.

11 março 2010

Ajuste

F. Ponce de León

Ajuste, pois.


09 março 2010

Na paz súbita do canto

Liberto Cruz

Na paz súbita do canto
me surpreendo
em manso aviso
e, insone, embarco
na jangada incerta.

Não isentas, as veias sabem
e em silêncio depõem,
de coragem, rios.
E a calma é tão fecunda
que adolescente, parto.

Na secreta angústia,
serena, a memória me confina
e válido, num grito me anuncio.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1959.

07 março 2010

Aula de inglês

Rubem Braga

Is this an elephant?

Minha tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade, e tinha o ar de quem propõe um grave problema. Em vista disso, examinei com a maior atenção o objeto que ela me apresentava.

Não tinha nenhuma tromba visível, de onde uma pessoa leviana poderia concluir às pressas que não se tratava de um elefante. Mas se tirarmos a tromba a um elefante, nem por isso deixa ele de ser um elefante; mesmo que morra em conseqüência da brutal operação, continua a ser um elefante; continua, pois um elefante morto é, em princípio, tão elefante como qualquer outro. Refletindo nisso, lembrei-me de averiguar se aquilo tinha quatro patas, quatro grossas patas, como costumam ter os elefantes. Não tinha. Tampouco consegui descobrir o pequeno rabo que caracteriza o grande animal e que, às vezes, como já notei em um circo, ele costuma abanar com uma graça infantil.

Terminadas as minhas observações, voltei-me para a professora e disse convictamente:

No, it’s not!

Ela soltou um pequeno suspiro, satisfeita: a demora de minha resposta a havia deixado apreensiva. Imediatamente me perguntou:

Is it a book?

Sorri da pergunta: tenho vivido uma parte de minha vida no meio de livros, conheço livros, lido com livros, sou capaz de distinguir um livro à primeira vista no meio de quaisquer outros objetos, sejam eles garrafas, tijolos ou cerejas maduras – sejam quais forem. Aquilo não era um livro, e mesmo supondo que houvesse livros encadernados em louça, aquilo não seria um deles: não parecia de modo algum um livro. Minha resposta demorou no máximo dois segundos:

No, it’s not!

Tive o prazer de vê-la novamente satisfeita – mas só por alguns segundos. Aquela mulher era um desses espíritos insaciáveis que estão sempre a se propor questões, e se debruçam com uma curiosidade aflita sobre a natureza das coisas.

Is it a handkerchief?

Fiquei muito perturbado com essa pergunta. Para dizer a verdade, não sabia o que poderia ser um handkerchief; talvez fosse hipoteca... Não, hipoteca não. Por que haveria de ser hipoteca? Handkerchief! Era uma palavra sem a menor sombra de dúvida antipática; talvez fosse chefe de serviço ou relógio de pulso ou ainda, e muito provavelmente, enxaqueca. Fosse como fosse, respondi impávido:

No, it’s not!

Minhas palavras soaram alto, com certa violência, pois me repugnava admitir que aquilo ou qualquer outra coisa nos meus arredores pudesse ser um handkerchief.

Ela então voltou a fazer uma pergunta. Desta vez, porém, a pergunta foi precedida de um certo olhar em que havia uma luz de malícia, uma espécie de insinuação, um longínquo toque de desafio. Sua voz era mais lenta que das outras vezes; não sou completamente ignorante em psicologia feminina, e antes de ela abrir a boca eu já tinha a certeza de que se tratava de uma pergunta decisiva.

Is it an ash-tray?

Uma grande alegria me inundou a alma. Em primeiro lugar, porque eu sei o que é um ash-tray: um ash-tray é um cinzeiro. Em segundo lugar, porque, fitando o objeto que ela me apresentava, notei uma extraordinária semelhança entre ele e um ash-tray. Era um objeto de louça de forma oval, com cerca de treze centímetros de comprimento. As bordas eram da altura aproximada de um centímetro, e nelas havia reentrâncias curvas – duas ou três – na parte superior. Na depressão central, uma espécie de bacia delimitada por essas bordas, havia um pequeno pedaço de cigarro fumado (uma bagana) e, aqui e ali, cinzas esparsas, além de um palito de fósforos já riscado. Respondi:

Yes!

O que sucedeu então foi indescritível. A boa senhora teve o rosto completamente iluminado por onda de alegria; os olhos brilhavam — vitória! vitória! — e um largo sorriso desabrochou rapidamente nos lábios havia pouco franzidos pela meditação triste e inquieta. Ergueu-se um pouco da cadeira e não se pôde impedir de estender o braço e me bater no ombro, ao mesmo tempo que exclamava, muito excitada:

Very well! Very well!

Sou um homem de natural tímido, e ainda mais no lidar com mulheres. A efusão com que ela festejava minha vitória me perturbou; tive um susto, senti vergonha e muito orgulho.

Retirei-me imensamente satisfeito daquela primeira aula; andei na rua com passo firme e ao ver, na vitrine de uma loja, alguns belos cachimbos ingleses, tive mesmo a tentação de comprar um. Certamente teria entabulado uma longa conversação com o embaixador britânico, se o encontrasse naquele momento. Eu tiraria o cachimbo da boca e lhe diria:

It’s not an ash-tray!

E ele na certa ficaria muito satisfeito por ver que eu sabia falar inglês, pois deve ser sempre agradável a um embaixador ver que sua língua natal começa a ser versada pelas pessoas de boa-fé do país junto a cujo governo é acreditado.

Fonte: Mello, M. A., org. 2003. Nossas palavras. RJ, José Olympio. Conto publicado em livro em 1948.

05 março 2010

A lógica da vida

François Jacob

[Introdução]
[...]
Como as outras ciências da natureza, a biologia perdeu, hoje, muitas das suas ilusões. Não procura mais a verdade. Constrói a sua. A realidade aparece, então, como um equilíbrio sempre instável. No estudo dos seres vivos, a história mostra a existência de uma sucessão de oscilações, de um movimento pendular entre o contínuo e o descontínuo, entre a estrutura e a função, entre a identidade dos fenômenos e a diversidade dos seres. É deste vaivém que, pouco a pouco, emerge a arquitetura do vivo, que esta se revela em camadas cada vez mais profundas. No mundo vivo, como fora dele, trata-se sempre de “explicar o visível complexo pelo invisível simples”, como disse Jean Perrin. Mas, nos seres como nas coisas, trata-se de um invisível de camadas superpostas. Não há uma organização do vivo, mas uma série de organizações encaixadas umas nas outras como bonecas russas. Atrás de cada uma esconde-se uma outra. Além de cada estrutura acessível à análise acaba se revelando uma nova estrutura, de ordem superior, que integra a primeira e lhe confere suas propriedades. Só se chega a esta destruindo-se aquela, decompondo o espaço do organismo para recompô-lo segundo outras leis. A cada nível de organização evidenciado corresponde uma nova maneira abordar a formação dos seres vivos. A partir do século 16, vê-se aparecer, em quatro momentos, uma nova organização, uma estrutura de ordem cada vez mais elevada: primeiro, com o começo do século 17, a articulação das superfícies visíveis, o que se pode chamar de estrutura de ordem um; depois, no final do século 18, a “organização”, estrutura de ordem dois que engloba órgãos e funções e que acaba transformando-se em células; em seguida, no começo do século 20, os cromossomos e os genes, estrutura de ordem três oculta no interior da célula; enfim, no meio deste século, a molécula de ácido nucléico, estrutura de ordem quatro em que se baseiam hoje a conformação de todo organismo, suas propriedades e sua permanência através das gerações. A análise dos seres vivos é realizada sucessivamente a partir de cada uma destas organizações.
[...]

Fonte: Jacob, F. 1983 [1970]. A lógica da vida. RJ, Graal.

03 março 2010

Ensinando a não nadar

Jorge Wanderley

Tome o tempo nas mãos,
este
pássaro molhado,
esta
vela que vacila e promete
e
espere,
o que é apenas deixá-lo em paz.

Não se pode garantir que algo se escute
ou venha de onde não havia, o bem, uma palavra,
mas
há-de alguma coisa acontecer de estranho
como
ficarem os rios a ver correrem as margens,
chegar ao fim o azul que nuvens inertes contemplam,
beijar teu nome um ferimento que temias.

(Única recomendação, o cuidado
para não sufocá-lo,
não deixar que escape
e de uma ou outra maneira ilumine os campos da noite.)

Fonte: Wanderley, J. 2001. Antologia poética. SP, Ateliê Editorial. Poema publicado em livro em 1974.

01 março 2010

Dinâmica da crosta terrestre

F. Harvey Pough, Christine M. Janis & John B. Heiser

Os continentes movem-se porque eles flutuam. As rochas superficiais são menos densas do que as rochas do manto subjacente e, assim, os blocos continentais flutuam no manto assim como um cubo de gelo flutua na água. O calor do centro da Terra produz correntes de convecção lentas no manto. A ressurgência de basalto fundido eleva-se em direção à superfície da Terra formando cristas meso-oceânicas onde atingem o topo da litosfera (a camada rochosa da Terra) e se espalham horizontalmente [...]. O fundo dos oceanos é coberto por uma cadeia de cristais meso-oceânicas que se estendem em torno do globo. A crosta mais jovem do fundo dos oceanos é encontrada no centro dessas cristas; movendo-se a partir do eixo da crista, o fundo oceânico torna-se mais velho. Formam-se zonas de subdução nas quais a litosfera afunda novamente para o interior do manto. O fundo dos oceanos é continuamente renovado por esse ciclo de elevação nas cristas meso-oceânicos e afundamento para o interior do manto nas zonas abdução, não ocorrendo rochas mais velhas do que 200 milhões de anos em qualquer lugar do fundo oceânico.

Fonte: Pough, F. H.; Janis, C. M. & Heiser, J. B. 2003. A vida dos vertebrados, 3ª edição. SP, Atheneu.

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