13 setembro 2011

A flauta mágica

Ingmar Bergman

Em meu filme A hora do lobo, eu tentei criar a cena [de A flauta mágica] que mais profundamente me comoveu. Tamino é deixado só no jardim do palácio. Ele grita: “Oh, noite escura! Quando desaparecerás? Quando encontrarei a luz na escuridão?” O coro responde pianissimo do interior do templo: “Breve, breve, ou nunca mais!” Tamino: “Breve? Breve? Ou nunca mais? Criaturas ocultas, dai-me vossa resposta. Pamina ainda está viva?” O coro responde, de longe: “Pamina, Pamina está viva.”

Esses 12 compassos envolvem duas questões dos limites da vida, mas também duas respostas. Quando Mozart escreveu sua ópera, ele já estava doente, o espectro da morte já o tocava. Em um momento de impaciente desespero, ele grita: “Oh noite escura! Quando desaparecerás?...” E o coro responde ambiguamente: “Breve, breve, ou nunca mais.” Mozart, mortalmente doente, grita seu questionamento pela escuridão. E dessa mesma escuridão ele responde suas próprias perguntas – ou será que ele recebe uma resposta?

E então a outra pergunta: “Pamina ainda vive?” A música transforma a simples pergunta do texto na maior de todas as perguntas: “O Amor ainda vive? O Amor é real?” A resposta vem, tremulante, porém esperançosa... Pa-mi-na ainda vive. O Amor existe. O Amor é real no mundo dos seres humanos.

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