11 setembro 2011

Olhos não se compram

Peter Buchka

1.
Por três quartos de século, o cinema viveu dos práticos. Foram eles que abriram novas possibilidades de expressão nesse campo, ao encontrarem diferentes soluções para o que precisava ser mostrado. Tratando-se de um novo meio de comunicação, cada geração tinha forçosamente que se apoiar nas conquistas de seus predecessores; e decerto não foi por acaso que a maioria dos que fizeram carreira começou bem embaixo no sistema hierárquico dos estúdios. Aprender significava observar o trabalho dos outros, imitá-lo e só então tentar um avanço. A indústria cinematográfica só foi perder esse caráter de fundo artesanal relativamente tarde – quando quase todas as conquistas técnicas essências do cinema já tinham sido desenvolvidas. Daí para frente, a partir mais ou menos de 1960, as inovações importantes não resultaram do trabalho nos estúdios, mas sim da reflexão sobre o meio de comunicação cinematográfico. Os novos cineastas – e este nome, adotado por eles em lugar de ‘diretor’, sugere uma certa má consciência – não eram mais os ajudantes de eletricista ou titulistas de outrora; eram críticos, historiadores do cinema e, cada vez mais, estudantes universitários de faculdades ou departamentos de cinema. Esses novos diretores chegaram à realização de filmes, não através do trabalho – a princípio, subalterno – em filmes, mas vendo filmes.
[...]

Fonte: Buchka, P. 1987 [1983]. Olhos não se compram: Wim Wenders e seus filmes. SP, Companhia das Letras.

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