29 outubro 2011

Canção de Kaspar Hauser

Georg Trakl

Ele em verdade amava o Sol que purpúreo descia a colina,
Os caminhos do bosque, o melro que cantava
E a alegria do prado.

Sério era o seu morar à sombra da árvore
E pura a sua face.
Deus disse-lhe ao coração uma chama suave:
Ó homem!

Silencioso o seu passo achou a cidade ao anoitecer;
A queixa escura da sua boca:
Hei-de ser cavaleiro.

Seguiram-no porém moita e bicho,
Casa e jardim crepuscular de homens brancos
E o seu assassino buscava-o.

Primavera e Verão e belo o Outono
Do justo, o seu passo baixo
Ao longo de quartos escuros e sonhadores.
À noite ficava sozinho coa sua estrela;

Viu que caía neve em ramaria calva
E no pátio a escurecer a sombra do assassino.

Argêntea tombou a cabeça do não-nascido.

Fonte: Quintela, P. 1998. Obras completas, vol. 3. Lisboa, Calouste Gulbenkian. Poema publicado em livro em 1915, com a dedicatória “Para Bessie Loos”. Na grafia portuguesa, o poema recebeu o título “Canção de Gaspar Hauser”.

1 Comentários:

Blogger Germano Viana Xavier disse...

Excitante.
Esta casa é deveras significante.

13/11/11 22:08  

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