21 março 2012

Tempestade amazônica

Humberto de Campos

O calor asfixia e o ar escurece. O rio,
Quieto, não tem uma onda. Os insetos na mata
Trilam cheios de medo. E o pássaro, o sombrio
Da floresta procura onde a chuva não bata.

Súbito, o raio estala. O vento zune. Um frio
De terror tudo invade... E o temporal desata
As peias pelo espaço e, bufando, bravio,
O arvoredo retorce e as folhas arrebata.

O anoso buriti curva a copa, e farfalha.
Aves rodam no céu, n’um estéril esforço,
Entre nuvens de folha e fragmentos de palha.

No alto o trovão regouga e em baixo a mata brama.
Ruge em meio a amplidão. Das nuvens pelo dorso
Correm serpes de fogo. E a chuva se derrama...

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1910.

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