21 abril 2012

Verdade necessária

Willard Van Orman Quine

Se as pessoas julgassem que pouco do que ocorre nesse mundo acontece por necessidade, certamente não teriam emprego para o advérbio “necessariamente”. O advérbio, no entanto, é de uso corrente. Depreende-se que as pessoas devem julgar que há muita coisa que sucede por necessidade.

Se as pessoas pensassem que praticamente tudo que sucede, acontece por necessidade, não haveria, por certo, muita ocasião em que se justificasse o uso do advérbio “necessariamente”; na maioria das vezes ele estaria implícito. Depreende-se que as pessoas devem imaginar que há muitas coisas que sucedem de modo necessário e que há outras tantas coisas que não sucedem assim. Presume-se que as pessoas disponham de algum critério que lhes permita separar os estados e acontecimentos que se sucedem, distribuindo-os de modo que alguns aconteçam por necessidade e outros não. Se assim não fosse, o advérbio “necessariamente” seria bem menos empregado. Pelo menos é o que parece.

Em verdade, porém, a presunção é sem fundamento. As pessoas não dispõem de tal critério. Estariam em situação embaraçosa se precisassem classificar os acontecimentos que sucedem, separando-os em necessários e não necessários. Com efeito, o advérbio “necessariamente”, tal como costumeiramente empregado, não determina a necessidade de acontecimentos ou estados passados ou presentes.
[...]

Fonte: Morgenbesser, S. org. 1979. Filosofia da ciência. SP, Cultrix.

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