23 junho 2012

Sobre a origem do amor

Harry F. Harlow

O primeiro amor da criança é sua mãe. A terna intimidade desse apego é tal que é às vezes considerado como uma força sagrada ou mística, um instinto não-suscetível de análise. Sem dúvida, tais escrúpulos, ao lado dos obstáculos óbvios no caminho de um estudo objetivo, dificultam a observação experimental dos vínculos entre mãe e filho.

Embora os dados sejam parcos, a literatura teórica sobre o assunto é rica. Psicólogos, sociólogos e antropólogos afirmam todos que o amor da criança é aprendido através da associação do rosto, corpo e outras características físicas da mãe com o alívio de tensões biológicas internas, particularmente fome e sede. Os psicanalistas tradicionais tendem a enfatizar o papel de segurar e mamar ao seio como a base do desenvolvimento afetivo. Recentemente, alguns jovens psiquiatras puseram em dúvida tais explicações simples. Alguns argumentam que o manuseio afetivo no ato de cuidar da criança é uma variável de importância, enquanto uns poucos sugerem que nas atividades que compõem esse cuidado, o contato, a limpeza e mesmo a visão e a audição se combinam para elicitar o amor da criança por sua mãe.

Entretanto, é difícil, se não impossível, usar crianças humanas como sujeitos para os estudos necessários para [superar o] presente impasse especulativo. Ao nascer, a criança é tão imatura que ela tem pouco ou nenhum controle sobre qualquer sistema motor além do envolvido na sucção. Além disso, sua maturação física é tão lenta que, na época em que ela pode conseguir respostas precisas, coordenadas e mensuráveis de sua cabeça, mãos, pés e corpo, a natureza e a seqüência do desenvolvimento têm sido desesperadamente confundidas e obscurecidas. É claro que as pesquisas sobre as relações entre mãe e filho precisavam de um animal de laboratório mais adequado. Acreditamos que este foi encontrado no filhote de macaco. Nos últimos anos, nosso grupo, no [Laboratório de Primatas] da Universidade de Wisconsin, vem empregando filhotes de macacos Rhesus num estudo que, nos parece, já começou a lançar luz sobre a origem do amor da criança por sua mãe.
[...]

Fonte: Harlow, H. F. 1977. O amor em filhotes de macacos. In: Scientific American, Psicobiologia: as bases biológicas do comportamento. RJ, LTC. Artigo originalmente publicado em 1959.

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