19 julho 2012

Chão de dezembro

Lina Tâmega Peixoto

Dentro de casa, esteios de remanso e pedaços da noite
escoram a cama onde me deito
estendida como um fardo pregueado de ossos.
Lá fora, a desolação amontoada no chão de dezembro
finge ser acréscimo do sol.

O coração desconsoladíssimo
se faz mais bem florido com o vazio
do que alegre em fartura por ter nascido.
A brisa enegrecida recolhe sobras de nomes
que pronuncio na misericórdia de mim.
Tudo são começos e fins
do mesmo selado ponto de partida.

A solidão guarda-me por compaixão
das miragens que crepitam nos festins da vida.
É por amor que ela é visível como corpo
e vive como água, semeada em riachos rasos
e seca em ondas profundas.

Fonte: poema publicado no livro Prefácio de vida (2010, Editora da Palavra) e republicado aqui com o devido consentimento da autora, a quem agradeço pela cortesia.

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