19 agosto 2012

In memoriam

Alfred Tennyson

Ó, mas confiamos que quiçá o bem
Seja a derradeira meta do mal,
Para as agonias da natureza, os vícios da vontade,
Os delitos da dúvida e máculas de sangue:

Que nada caminhe por si a esmo;
Que vida nenhuma seja destruída,
Ou lançada como entulho ao grande nada,
Quando Deus houver a pira rematado;

Que verme algum seja fendido em vão;
E mariposa alguma, num vão desejo,
Seja engelhada em fogo estéril,
Ou sucumba ao ganho alheio.

Vê, nada é o que sabemos;
Creio apenas que o bem advirá
Enfim – ao longe – enfim, a todos,
E todo inverno se tornará primavera.

Assim se esvai o sonho meu: mas o que sou eu?
Uma criança chorando na noite:
Uma criança clamando por luz:
Sem outra língua que não o pranto.

Fonte: Gould, S. J. 1997. Dinossauro no palheiro. SP, Companhia das Letras. O poema inteiro, publicado em livro em 1850 com o título completo de “In memoriam A. H. H. Obiit MDCCCXXXIII”, tem 133 cantos. O trecho acima corresponde ao Canto 54.

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