07 maio 2014

Chama-se o ladrão

Luigi Moscatelli

A verdade de um criminoso comum, um pé-de-chinelo qualquer, não é encontrada tecnológica e cientificamente segundo o modelo de Sherlock Holmes, isto é, na procura obsessiva de todos os elementos causais detonadores do crime. Ela estará sempre presente nos signos que ele assimila, possui e transmite: cor de pele, tipo de roupa, tipo de trabalho, moradia, relações familiares, antecedentes, atitudes, raciocínio, maneira de falar, locais que freqüenta. Pinçá-los na rede da justiça através das mãos de um policial não significa extirpar um mal, significa enviar ao seu meio de origem a seguinte mensagem: cuidado, permaneçam obedientes, estamos sempre vigilantes! Sabendo-se que este meio é um caldeirão da criminalidade a alimentar todos os focos de transgressões, uma outra mensagem é enviada a segmentos sociais economicamente superiores: nossa ação é imprescindível, violenta e desumana por vezes, porém necessária; vejam que espécie de seres nos cercam; somos o vosso amparo.
[...]

Para que estas mensagens sejam válidas, será sempre necessária a produção de um transgressor que as justifique. A partir daí, serão elaboradas extensas batidas policiais contra prostitutas, desocupadas, vagabundos, mendigos, viciados em maconha; tomam-se de assalto favelas, espalhafatosamente atira-se a esmo, ferindo e matando ao acaso. Pouco importa. Sempre serão “criminosos em potencial, gente de segunda categoria, ralé”.
[...]

Fonte: Moscatelli, L. 1982. Política da repressão: Força e poder de uma justiça de classe. RJ, Achiamé & SOCII.

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