31 julho 2014

Restringindo a poluição petrolífera

Hans Liebmann

Apesar da forte poluição das águas litorâneas hoje em dia existente e, parcialmente, também em alto-mar, há possibilidade de se proceder ao saneamento dos mares.

Nesse processo devem-se estabelecer certas diferenças: 1) impedir que os mares sejam poluídos pelo lançamento de esgotos deterioráveis e infecciosos em rios ou por cidades litorâneas; 2) impedir que se lancem no mar o lodo de esgotos tratados, detritos industriais ou substâncias radiativas; 3) impedir a poluição petrolífera. Nas diversas convenções internacionais já foram elaboradas sugestões práticas para se obter o saneamento geral dos mares, incluídas suas águas costeiras.
[...]

A poluição petrolífera pode ser restringida em amplas proporções. Pode ser reduzido consideravelmente o perigo de maiores acidentes, seguidos de derrame de óleo, através do desenvolvimento e da aplicação de medidas de segurança reforçadas nas perfurações de poços petrolíferos marítimos e no transporte do petróleo. As dimensões das perdas de óleo, tanto no naufrágio como nas colisões de petroleiros, podem ser reduzidas através da construção de muitos tanques de pequena capacidade no lugar dos tanques de grande capacidade, bem como através da construção de petroleiros com cascos e paredes duplas. No mar, a poluição petrolífera pode ser diminuída, ainda, pela construção de recipientes capazes de receber, em terra, a água de lastro embebida em óleo, exemplo que, com sucesso, já foi dado pelas Diretorias de Água e Navegação (RFA) nos canais internos de navegação. Como a instalação desses tanques traz certas dificuldades, recomenda-se que o carregamento dos petroleiros seja feito pelo sistema denominado ‘carga em cima’. As águas usadas na limpeza dos tanques receptores de petróleo são bombeadas para um tanque especial, no qual, com a aplicação de processos diversos, a água pode ser separada do óleo. Depois, essa água, que permanece sob a camada de óleo, mas já isenta de óleo em larga escala, pode ser lançada na corrente de água produzida pelas hélices do navio. A nova carga de óleo poderá então ser acrescentada ao óleo restante, de maneira que nada se perde. Assim, igualmente, todos os grandes cargueiros e navios de passageiros deverão, no futuro, ser equipados de maneira que a água acumulada na quilha possa, através de decantadores, ser depurada dos restos de óleo. Para se manter a níveis mais reduzidos possíveis a poluição dos mares causada por detritos sólidos lançados dos navios, deverão ser construídas nas grandes cidades portuárias instalações de incineração de lixo, dotadas de correspondentes depósitos de lixo, como já se pode encontrar, em parte, nos portos alemães.
[...]

Fonte: Liebmann, H. 1976 [1973]. Terra, um planeta inabitável? SP, Melhoramentos & Edusp.

29 julho 2014

Ancoradouro


William George Gillies (1898-1973). The harbour. 1934.

Fonte da foto: Wikipedia.

27 julho 2014

Viver primeiro

Paulo Roberto do Carmo

Sentir primeiro, pensar depois.
Perdoar primeiro, julgar depois.

Amar primeiro, educar depois.
Esquecer primeiro, aprender depois.

Libertar primeiro, ensinar depois.
Alimentar primeiro, cantar depois.

Possuir primeiro, contemplar depois.
Agir primeiro, rezar depois.

Navegar primeiro, aportar depois.
Viver primeiro, morrer depois.

Fonte: Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 1987.

25 julho 2014

A ciência não é uma serva da prática

Isaac Levi

Devemos imaginar o cientista como alguém muito diferente de um elaborador de regras. Diversamente do que se dá com o homem de ação, o cientista preocupa-se não com o que devemos fazer, mas com o que devemos acreditar. Seu propósito é o de fazer predições verdadeiras; descrever passado e presente, de maneira tão acurada quanto possível; e explicar o que prediz e descreve em termos de leis e teorias gerais. Buscando a verdade, o cientista deve afastar seus preconceitos pessoais. Mesmo seus pontos de vista morais e os interesses da sociedade ou grupo a que serve não devem influenciar suas conclusões.

Diversamente de um elaborador de normas, espera-se que o cientista mantenha neutralidade em questões de valor. Isso não que dizer que ele deva ser temperamentalmente frio. Nem implica deva ele evitar posições morais no determinar problemas que selecionará para exame. Mas, escolhido o problema, a neutralidade frente ao valor exige que ele determine qual das respostas possíveis é correta com base na evidência de que dispõe e independentemente de suas convicções éticas.
[...]

O erro da concepção de ciência como conselheira está em sustentar que seu único objetivo é o de oferecer as probabilidades para que delas faça uso quem vai deliberar; o erro do behaviorismo está em admitir que o cientista é um homem a quem competem as decisões. A ciência não é uma serva da prática nem se identifica à prática. Ela tem seus próprios objetivos. Não obstante, na busca da verdade, o cientista obtém, como espécie de subproduto de seus esforços, informações que a pessoa a quem cabe deliberar, seja ela um chefe de Estado, um industrial ou mesmo um homem comum, só pode ignorar em detrimento próprio.

Fonte: Morgenbesser, S. org. 1979. Filosofia da ciência. SP, Cultrix.

24 julho 2014

Epitaph on an army of mercenaries

Alfred Edward Housman

These, in the day when heaven was falling,
The hour when earth’s foundations fled,
Followed their mercenary calling
And took their wages and are dead.

Their shoulders held the sky suspended;
They stood, and earth’s foundations stay;
What God abandoned, these defended,
And saved the sum of things for pay.

Fonte: Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 3. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1922.

21 julho 2014

Primavera e outono

Gerard Manley Hopkins

Margaret, por que choras?
Por Goldengrove, que perde suas folhas?
Como se humanas fossem, em teu pensar
Tão puro, por folhas pões-te a chorar?
Ah! o coração envelhece e acontece
Que por coisas assim perde o interesse;
Já não lhe inspira mais tristeza alguma
Se os bosques perdem folhas, uma a uma;
Mas vais chorar e o porquê vais saber.
Só que isto, filha, nem vale dizer;
São sempre as mesmas as fontes do pranto.
Boca ou mente não expressam quanto
A alma adivinha, o coração pressente:
O mal de origem com que o homem nasce,
Eis, Margaret, o que te entristece.

Fonte: Hopkins, G. M. 1989. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema – com a dedicatória “A uma menina” – publicado em livro em 1918.

19 julho 2014

O pôr do sol


William McTaggart (1835-1910). Sunset glamour. 1894.

Fonte: The Athenaeum.

17 julho 2014

Números reais e desigualdades

Louis Leithold

O sistema numérico real consiste em um conjunto de elementos chamados de números reais e duas operações denominadas adição e multiplicação, denotadas pelos símbolos + e ∙ , respectivamente. Se a e b forem elementos do conjunto R, a + b denotará a soma de a e b e ab (ou ab) denotara o seu produto. A operação de subtração é definida pela igualdade

ab = a + (– b)

onde – b denota o negativo de b, tal que b + (– b) = 0. A operação de divisão é definida pela igualdade

a / b = ab–1   b ≠ 0

onde b–1 denota o recíproco de b, tal que bb–1 = 1.

O sistema numérico real pode ser inteiramente descrito por um conjunto de axiomas (a palavra axioma é usada para indicar uma afirmação formal considerada verdadeira, dispensando provas). Com esses axiomas podemos deduzir as propriedades dos números reais das quais seguem as operações algébricas de adição, subtração, multiplicação e divisão, bem como os conceitos algébricos de resolução de equações, fatoração e assim por diante.

As propriedades que podem ser obtidas como conseqüências lógicas dos axiomas são os teoremas. No enunciado da maioria dos teoremas existem duas partes: a parte do ‘se’, chamada de hipótese, e a parte do ‘então’, chamada de conclusão. A argumentação que verifica a veracidade de um teorema é uma demonstração (ou prova), a qual consiste em mostrar que a conclusão é conseqüência de se admitir a hipótese como verdadeira.
[...]

Fonte: Leithold, L. 1994 [1990]. O cálculo com geometria analítica, 3ª edição. SP, Harbra.

15 julho 2014

O dia de eleição

Cornélio Pires

– Muita gente na cidade?
– Nem fale primo Bastião...
Mais de tuda as qualidade
tinha gente na inleição!

Fiquei meio atrapaiado:
fui votá co Coroné
que pagô o dotor formado
que curô minha muié,

quando chegô nhô Travasso,
pra quem devo treis favô,
e me pegano pro braço,
disse: “Este é meu eleito.”

Votei co’ele, que fazê?
Mais porém, nôtra inleição,
o Coroné há de vê
que eu tô no seu bataião.

De tardinha, quano eu sube
que ia havê u’a cervejada
na casa grande do crube,
fui pra lá vê a rapaziada.

Ota povo mais que terno!
Tudo era ali bem tratado...
Êta baruio do inferno!
Fiquei meio turtuviado.

A gente ganha sapato,
ganha ropa de argodão,
come frango, come pato,
quano é dia de inleição.

O tar crube é um bão cevero,
os chefe são cevadô,
é gente que tem dinhero
pra garanti o eleitô.

Pra vancê sê visitado
nos tempo das inleição,
é perciso sê alistado...
Se aliste, primo Bastião! 

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1910.

13 julho 2014

A catedral

Alphonsus de Guimaraens

Entre brumas ao longe surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

Fonte: Ricieri, F., org. 2008. Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. SP, Ibep. Poema publicado em livro em 1899. ‘Alphonsus de Guimaraens’ é pseudônimo de Afonso Henriques da Costa Guimarães.

12 julho 2014

Noventa e três meses no ar

F. Ponce de León

Neste sábado, 12/7, o Poesia contra a guerra completou noventa e três meses no ar. Ao longo desse período, o contador instalado no blogue registrou 247.698 visitas.

Desde o balanço anterior – Noventa e dois meses no ar – foram aqui publicados pela primeira vez textos dos seguintes autores: Araldo Sassone, Bernhard Rensch, Berta G. Ribeiro, Bryan Shorrocks, Carlos Saldanha Legendre, Eugène Marais, Jô Amado, Mary Fiess e Michael Ruse. Além de alguns outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Anthonij Mauve, Jozef Israëls e William Quiller Orchardson.

11 julho 2014

O bebê


William Quiller Orchardson (1832-1910). Master baby. 1886.

Fonte da foto: Wikipedia.

09 julho 2014

Do idiota

Henriqueta Lisboa

1.
Os olhos são da infância, os mesmos:
lagos com reflexos de arco-íris.
Luas crescentes de surpresa
pelos vergeis que iluminam.

Oásis tenros que esperam
– talvez há séculos – o instante
de serem colhidas as tâmaras
que nem os anjos percebem.

Como a lâmpada de Aladino
contra as lufadas acesa,
os olhos guardam a inocência
suspensa por sobre o abismo.

2.
As mãos pousam no ombro amigo.
Ó doce fluido magnético!
Acenos de trigal ao zéfiro;
auras do círculo infinito

no qual em rosas a água e o fogo,
o céu e a terra se entrelaçam;
guirlandas contornam mares,
névoas desprendem chuvas de ouro.

As mãos ignoram que profundas
garras possui a carícia.
Como pesaria uma pluma
sobre o espírito!

3.
O peito é como o dos pássaros
procurando repouso.
Uma cruz esconde o tesouro
de pérola, magnólia e nácar.

Ergue-se um punhal contra o peito:
violino sob o toque do arco
arqueja e desfere os jactos
um trinado mais célere.

A que imprevisíveis mundos
poderá conduzir,
pássaro nas grades, a tua
música para víboras!

Fonte: Lisboa, H. 2001. Melhores poemas. SP, Global. Poema publicado em livro em 1958.

07 julho 2014

Como faíscam os relâmpagos?

Mary Fiess

Quando Benjamin Franklin corajosamente empinou seu papagaio durante uma tempestade, em 1752, provou o que a maioria dos outros cientistas contemporâneos dele apenas suspeitava: raios realmente constituem uma faísca elétrica. Mas hoje os cientistas ainda não sabem como se originam esses espetaculares lampejos.

Por que uma nuvem revolta de repente se torna um gerador de alta voltagem expelindo faíscas que podem riscar os céus por quilômetros? O mistério central é como enormes quantidades de cargas positivas e negativas se desenvolvem e polarizam em partes do que foi, originalmente, uma nuvem eletricamente neutra.

Encontrar a resposta, entretanto, tem provado ser muito mais difícil que empinar um papagaio. “Uma nuvem de trovoada é uma coisa tão grande que você realmente não consegue examinar tudo de uma só vez”, diz Earle Williams, geofísico que estuda raios no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT).

Muitos já tentaram. Os cientistas já efetuaram vôos correndo risco de morte em balões à beira de tempestades violentas para procurar as respostas. Já sobrevoaram em volta e através de nuvens de trovoada. Usaram até foguetes para detonar raios. Mas, até agora, esses esforços forneceram apenas vestígios do que acontece dentro de uma nuvem de trovoada.
[...]

Fonte: Leigh, J. & Savold, D., orgs. 1991 [1988]. O dia em que o raio correu atrás da dona-de-casa... e outros mistérios da ciência. SP, Nobel.

05 julho 2014

Despertar sem passado

Araldo Sassone

Em tuas mãos suaves
Deposito
Meu coração cansado.

E quero, adormecido
No sonho bom
De teu semblante
Despertar sem passado.

Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira.

03 julho 2014

Questões morais

Michael Ruse

Devemos começar com a mais básica de todas as questões. Estamos usando a evolução para podermos compreender e talvez justificar a moralidade – a questão situada no cerne da ‘ética’. Que é exatamente essa moralidade, foco de nosso interesse? A grosso modo sabemos naturalmente o que ela é. A moralidade se refere a diretivas para a vida, a obrigações. Ao que devemos e não devemos fazer. Mas, uma vez que nos vamos estender largamente sobre o assunto, poderíamos talvez explicar mais claramente a natureza formal da moralidade? A primeira pergunta que faço é sobre o seu significado. Quais seriam os critérios para que uma frase possa ser classificada como uma declaração moral? Em breve passarei a falar sobre conteúdo e evidência. [...]

Muito tem sido escrito a respeito de como separar o pensamento e a linguagem moral do pensamento e da linguagem não-moral. Um bom ponto de partida é a universalidade da moralidade, ou antes, a universalidade de toda reivindicação feita em nome da moralidade [...]. Em uma asserção de ordem moral pretendemos num certo sentido ir além do individual. Consideremos uma declaração tida por todo mundo, sem qualquer ambigüidade, como moral: “Você não deve estuprar meninas pequenas”. Embora, como é o caso em questão, eu esteja me referindo a um indivíduo em particular, o que torna moral a declaração é que ela se apóia numa proibição universal: “É errado para você, ou eu, ou, quem quer que seja, estuprar meninas pequenas”.

O que está sendo dito aqui é algo que se acha acima dos desejos do leitor, ou dos meus, ou dos de qualquer outra pessoa. Se o leitor me dissesse (sinceramente) que desejava estuprar uma menininha, isso não faria diferença no que se refere ao fato de que o estupro é errado, de que eu o consideraria errado, ou (e isso é importante) de que eu acho que o leitor deveria considerá-lo errado. Em outras palavras, a moralidade não é só uma questão de crenças e inclinações pessoais. Trata-se se algo que se aplica a todas as pessoas – pelo menos a todas as pessoas responsáveis que podem ser consideradas como agentes morais. [...]

Fonte: Ruse, M. 1995. Levando Darwin a sério. BH, Itatiaia.

01 julho 2014

Família camponesa


Jozef Israëls (1824-1911). Boerengezin aan tafel. 1882.

Fonte da foto: Wikipedia.

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