27 setembro 2014

Aspectos comparativos do comportamento

N. Blurton Jones

Nos últimos anos, vários livros de divulgação, e um ou dois trabalhos sérios (por exemplo, Bowlby, 1969), têm feito analogias entre o comportamento humano e animal. Muita controvérsia foi gerada por estas comparações. A verdade, no entanto, deve estar em algum ponto entre a certeza dos zoólogos, de que é possível fazer comparações válidas, e a certeza dos sociólogos, de que não é possível fazer qualquer comparação válida. Conseqüentemente, talvez a aplicação de estudos comparativos ao estudo do comportamento humano possa ser avaliada, desde que se adote uma atitude relativamente livre de comprometimento, em relação à predominância, seja de comportamentos específicos da espécie, seja de ‘fatos sociais’ independentes de fatos biológicos (uma discussão útil das dificuldades desta dicotomia pode ser encontrada em Freeman [1966]). Ambrose (1968) já havia descrito um uso diferente de estudos com animais, para fazer progredir os conceitos e a metodologia de estudos sobre desenvolvimento de comportamento. Dados obtidos com animais também podem ser utilizados para sugerir hipóteses acerca do comportamento, ou para sugerir fenômenos ou mecanismos a serem investigados no homem. Uma outra vantagem do ponto de vista comparativo, ou pelo menos do interesse nos efeitos e no valor de sobrevivência do comportamento, que acompanha este ponto de vista, é entender as tarefas que a máquina estudada tem a desempenhar. O desenvolvimento do comportamento de uma criança é um assunto amplo e difícil, um sistema enorme para analisar. No entanto, se soubermos quais as suas funções, a tarefa de descobrir como elas são efetuadas pode ser muito mais fácil. Freedman (1967) e Fox e Tiger (1966), entre outros, argumentam que a perspectiva [evolutiva] tem outras contribuições importantes.

Como zoólogo, envolvido em estudos diretos de comportamento humano (e que, nesta medida, vê as coisas do ponto de vista do psicólogo), espero poder mostrar, através de um pequeno estudo, os princípios subjacentes a estudos comparativos. Estes princípios nem sempre estão claros nos livros recentes de divulgação. Investiguei um problema particular que pode ser importante para estudos sobre o apego mãe-bebê. Devo enfatizar que o método utilizado é inteiramente diferente do método etológico utilizado na maioria dos outros estudos descritos neste livro.
[...]

Fonte: Blurton Jones, N. 1981 [1972]. Aspectos comparativos do contato mãe-criança. In: N. Blurton Jones, ed. Estudos etológicos do comportamento da criança. SP, Pioneira.

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