06 outubro 2014

Biritiba

Tarciso S. Filgueiras

Naquela hora da tarde, o calor estava tão forte que não dava para ficar dentro da lojinha. Balaio era um armarinho de uma porta só que Belmiro recebera quase como dote por ter se casado com Divina, a filha única do seu Alves, o dono original da loja de miudezas. Como o movimento na tarde quente era quase nulo, ele resolveu puxar uma cadeira e se sentar na calçada para aproveitar a fresca que, de vez em quando, corria lá fora.

Sentou-se na cadeira, mãos atrás da cabeça, espaldar precariamente encostado na parede. Deitou a olhar a rua, de alto a baixo. Não via nada, nada acontecia. Dava para ouvir cachorro latindo, crianças chorando em algum lugar, mulheres ralhando com alguém, mas ninguém nas ruas. Pachorra geral. De repente, ao olhar para os lados da praça da igreja, viu o vulto de uma mulher que subia a rua. Andava devagar, compassadamente. Apurou a vista e antes que seus olhos enxergassem direito, seu coração lhe segredou que era ela. Aquele jeito de andar, certo gingado, aquela sombrinha azul ferrete... Só podia ser ela. Sinhazinha!
[...]

Fonte: Filgueiras, T. S. 2011. Tempo de Tarumã. RJ, Outras Letras.

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