30 dezembro 2014

O começo da prática

Alain Manier & Françoise Dolto

[AM] Então, como você diz, foi a guerra que lhe deu a oportunidade de se estabelecer como psicanalista?

[FD] De fato, foi a guerra. No dia da declaração de guerra, 3 de setembro de 1939, além da minha prática liberal eu tinha funções de interna em rodízio de substituição, isto é, eu substituía os médicos dos Enfants-Malades que precisavam se ausentar. A maior parte dos serviços que eu tinha freqüentado [estava] nos Enfants-Malades, que era o único hospital para crianças; logo, eu estava o tempo todo nos Enfants Malades, onde sempre almoçava, e toda a enfermagem me conhecia. E para complementar meus ganhos, fazia substituições na enfermagem noturna. Como todos os chefes de serviços e as enfermeiras me conheciam, aceitavam-me como se fosse uma interna, porque eu tinha feito meu internato com eles. Como lhe disse, não me apresentei no concurso porque não queria tomar o lugar de alguém, eu que não desejava fazer parte daquela hierarquia, da qual fugia, e que achava enlouquecedora para todo mundo. Não se era mais médico, era-se uma peça na hierarquia. Eu julgava isso completamente idiota. Estava, realmente, acabado para mim.
[...]

Fonte: Dolto, F. 1988. Auto-retrato de uma psicanalista. RJ, Jorge Zahar.

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