25 abril 2015

A uma jovem espanhola

Manuel Antônio de Almeida

És tão mimosa e tão bela,
Como a estrela,
Que desponta rutilante,
E que se mira luzente
Na corrente,
Que a retrata deslumbrante.

És airosa, qual palmeira
Que altaneira
Sua coma eleva ao ar,
Ou qual batel enfunado,
Que apressado
Desliza à face do mar.

Esses teus olhos brilhantes
Fulgurantes
Têm um quê, que diz – amor –,
Eu que os buscara evitar
Sem pensar
Me queimei no seu calor.

Esses lábios teus corados,
Engraçados,
E teus dentes de marfim,
São dotes que te invejara
E cobiçara
O mais lindo Querubim.

A ti, virgem tão formosa,
Tão donosa
Votei santo e puro amor;
E tu serás insensível,
Impassível
Aos votos do Trovador?

Ah! não o sejas, Deidade,
Tem piedade
Deste mísero cantor;
Com teus olhos tão brilhantes,
Fulgurantes
Dá-lhes doce olhar de amor;

Com teus lábios tão corados,
Engraçados,
Dize um – sim – que lhe dê vida,
E serás na lira amada,
Decantada,
E no seu peito querida.

Fonte (primeira e última estrofe): Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 2. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1849.

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