07 abril 2015

Boca de fonte, ó boca providente

Rainer Maria Rilke

Boca de fonte, ó boca providente,
que infatigável diz o Um, o Puro –
defronte do semblante de água múrmuro,
tu, máscara de mármore. E a nascente

dos aquedutos lá ao longe, nas
encostas apeninas, junto às tumbas,
de onde eles trazem-te o dizer que das
tuas vetustas fauces negras tomba

na bacia: uma orelha adormecida,
uma orelha de mármore, guarida
em que vertes o intérmino dizer.

Uma orelha da terra que só fala
consigo. Se uma bilha se intercala,
parece-lhe que a vens interromper.

Fonte: Rilke, R. M. 1993. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema publicado em livro em 1922.

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