27 agosto 2015

Um desejo ainda teria

Mihai Eminescu

Um desejo ainda teria:
Quando termine o dia,
Deixa-me morrer
À margem do mar,
Calmo seja o sonhar
E próximo ao bosque seja.
Nas águas sem par
Sereno céu veja.
Não quero bandeiras
Nem urna atapetada.
Um simples leito quisera
De ramos entrelaçados.

E depois de mim
Ninguém chore sobre a tumba.
Só o outono fale
Na folhagem murcha.
Enquanto ruidosas caem
Muitas fontes seguidas.
Que a luz deslize
Sobre os ramos do abeto
E o cincerro atravesse
O frio da tarde.
E a tília santa
Sacuda sobre mim sua ramagem.

Como peregrino de outrora
Não serei.
Fartar-me-ei de carinhos,
Que recordarei.
Os astros por entre as sombras dos abetos,
Amistosamente, sorrirão de novo,
Gemerá apaixonado
O canto áspero do mar,
Porém eu serei barro
Na minha solidão.

Fonte: Freire, C. 2004. Babel de poemas: uma antologia multilíngüe. Porto Alegre, L&PM. Poema publicado em livro em 1883.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker