10 janeiro 2016

Se acaso uma alma se fotografasse

Euclides da Cunha

Se acaso uma alma se fotografasse,
De sorte que, nos mesmos negativos,
A mesma luz pusesse em traços vivos
O nosso coração e a nossa face,

E os nossos ideais, e os mais cativos
Dos nossos sonhos... Se a emoção, que nasce
Em nós, também nas chapas se gravasse,
Mesmo em ligeiros traços fugitivos...

Amigo! tu terias com certeza
A mais completa e insólita surpresa
Notando, deste grupo bem no meio,

Que o mais belo, o mais forte e o mais ardente
Destes sujeitos é, precisamente,
O mais triste, o mais pálido e o mais feio...

Fonte (estrofes 3 e 4): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª edição. BH, Editora Bernardo Álvares. O poema tem algumas variantes, todas datadas de 1905.

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