20 junho 2016

Lágrima celeste

João de Deus

Lágrima celeste,
Pérola do mar,
Tu que me fizeste
Para me encantar!

Ah! se tu não fosses
Lágrima do céu,
Lágrimas tão doces
Não chorava eu.

Se eu nunca te visse,
Bonina do vale,
Talvez não sentisse
Nunca amor igual.

Pomba debandada,
Que é dos filhos teus?
Luz da madrugada,
Luz dos olhos meus!

Meu suspiro eterno,
Meu eterno amor,
De um olhar mais terno
Que o abrir da flor,

Quando o néctar chora
Que se lhe introduz
Ao romper da aurora
E ao raiar da luz!

Esta voz te enleve,
Este adeus lá soe,
O Senhor t’o leve,
E Deus te abençoe.

O Senhor te diga
Se te adoro ou não,
Minha doce amiga
Do meu coração!

Se de ti me esqueço
Ou já me esqueci,
Ou se mais lhe peço,
Do que ver-te a ti!

A ti, que amo tanto
Como a flor a luz,
Como a ave o canto,
E o Cordeiro a Cruz;

A campa o cipreste,
A rola o seu par,
Lágrima celeste!
Pérola do mar!

Fonte (versos 2, 10, 16 e 23): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª edição. BH, Editora Bernardo Álvares. Poema publicado em livro em 1868.

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