19 julho 2016

Ay, Justiça, mal fazedes que non

João Airas de Santiago

   Ay, Justiça, mal fazedes que non
queredes ora dereito filhar
de Mor da Cana porque foi matar
Joan Ayras, ca fez mui sen razon.
Mais se dereito queredes fazer,
ela so el devedes a meter,
ca o manda o livro de Leon.
   Ca lhi queria gran ben e des i
nunca lhi chamava se non “senhor
e quando lh’el queria mui milhor,
foi o ela logo matar ali.
Mais, Justiça, pois tan gran torto fez,
metede-a ja so el ũa vez,
ca o mandan, e dereit’é assi.
   E quando mais Joan Ayras cuidou
que ouvesse de Mor da Cana ben,
foi o ela logo matar por én
tanto que el en seu poder entrou.
Mais, Justiça, pois que assi é ja
metan-a so el, et padecer-á
a que o a mui gran torto matou.
   E quen-os ambos vir’jazer dirá:
“bẽeito sej(a) aquel que o julgou”.

Fonte: Vasconcelos, CM. 2004 [1904]. Glosas marginais ao cancioneiro medieval português de Carolina Michaëlis de Vasconcelos. Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis. Poema escrito na segunda metade do século 13.

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