14 janeiro 2017

Rua Real da Torre

Mauro Mota

Ó Rua Real da Torre,
que mistérios ocultais
nos chalés mal-assombrados
que aos fantasmas alugais?

Nos cemitérios dos sítios?
Nas casas de telha vã?
Nos crepúsculos pousados
nas copas dos flamboyants?

Um cheiro de moça noiva
chega dos velhos jardins.
Ressurgem tranças com ramos
de resedás e jasmins.

Os vizinhos nas calçadas
logo depois do jantar.
Cadeiras de lona se abrem
para as almas conversar.

Vozes que ficaram presas.
Seresteiros e pregões.
Sonatas de antigos pianos,
valsas lentas de violões.

Que invisíveis transeuntes
pisando na areia vêm?
Existem rastos na areia,
mas não se sabe de quem.

Entra a rua em agonia,
e este último lampião
é a vela acesa que a rua
quase morta tem na mão.

Passantes de um lado e outro,
para onde te levarão?
Ó Rua Real da Torre,
vão levando o teu caixão. 

Fonte: Horta, A. B. 2007. Criadores de mantras. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1952.

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