22 março 2017

As necessidades do lar

Mary Agnes Hamilton

Como representante dos simples consumidores, aos quais esta grande assembleia, com característica generosidade, permitiu usar da palavra, desejo abordar a discussão de um ponto posto por Sir Harold Hartley. Ele disse, e, claro está, com verdade, que o uso científico da energia não revolucionou somente as condições do trabalho; reduziu também, consideravelmente, a fadiga, aumentou o confortou e melhorou as condições de saúde dentro do lar. Esse alívio, porém, ficou limitado, em geral e neste país, às casas dos bem dotados, a casa moderna. A maior parte das mulheres que trabalham está ainda ligada à sujidade, aos antigos trabalhos pesados e aos antigos utensílios. Trabalham em condições que lhe tornam extremamente difícil encontrar na sua actividade aquela satisfação artística que é devida a qualquer trabalho feito tão bem quanto possível; trabalha em condições que lhe tomam mais tempo, mais energia e mais paciência do que seriam necessários. O meu pedido será, portanto, que se tornem extensivo ao lar humilde os utensílios que poupam trabalho e que podem revolucionar a vida dentro dele. [...]

É este o âmago do meu pensamento. O mundo, para a sua reconstrução, vai precisar do trabalho de todos os seus cidadãos. Vai precisar tanto do trabalho de suas mulheres, como precisa do dos seus homens. Se o trabalho do lar humilde fosse racionalizado – é isso, o mínimo, que a ciência pode fazer por ele – a mulher que quere e pode ter uma ocupação fora de casa, pode tê-la sem sacrificar o seu lar. [...] O aligeiramento duma tarefa desnecessária e sem fim tornará a família, que vive nesse lar, capaz de gozar uma intimidade mais completa e mais livre e, ao mesmo tempo, mais rica e mais variada. A ciência, se não for tão orgulhosa que não possa promover essa comezinha aplicação dos seus grandes sucessos, dará uma não pequena contribuição para aquilo que o dr. Thomas Jones chamou, no outro dia, “os milhares de pequenas vitórias à volta da nossa porta, nas quais a nossa vitória deve ser dividida”.

Fonte: Sá da Costa, A. & Freire, J. R. org. 1943. A ciência e a ordem mundial. Lisboa, Cosmos.

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