20 junho 2017

Sobre a especificidade enzimática

François Chapeville

Uma grande parte da informação contida numa proteína não se destina apenas a permitir esta ou aquela actividade. É uma informação de especificação que consiste em dizer: “Faz isto, e nunca aquilo”. O difícil não está em ter uma certa actividade, mas esta e mais nenhuma outra. Quando se examina rigorosamente as coisas (e esta situação encontra-se agora a todos os níveis em biologia molecular), verifica-se que uma dada proteína tem em geral uma certa actividade, pela qual é catalogada e que, ao mesmo tempo, possui, a um nível muito fraco, actividades parasitas que não têm um papel celular normal. A bactéria Escherichia coli possui uma enzima especializada na utilização de um açúcar, a lactose, que pode servir de alimentação à bactéria. Pode-se-lhe fazer perder o gene codificado para essa enzima. Ora, apesar dessa carência, certos mutantes podem continuar a utilizar a lactose como alimento. O que acontece é que uma das proteínas da bactéria possui, a título de actividade parasita muito fraca, a capacidade de utilizar a lactose. Os mutantes que fabricam essa proteína em excesso, em quantidade cem vezes superior à normal ou ainda mais, podem muito bem passar sem o gene codificado normalmente para a proteína de utilização da lactose. De uma maneira geral, quando as condições externas mudam, uma actividade parasita pode, após amplificação, trazer a resposta a um desafio evolutivo.

Fonte: Noël, E., org. 1981. O darwinismo hoje. Lisboa, Dom Quixote.

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