31 outubro 2017

Sistemas agrários

Ademar Ribeiro Romeiro

A passagem da produção agrícola baseada em sistemas de cultura itinerante para uma produção baseada em sistemas de cultura permanente na Europa do Norte foi objeto de vivas controvérsias. Uma das mais importantes opunha, de um lado, aqueles que viam a expansão demográfica como a variável independente na evolução dos sistemas agrários; de outro lado, aqueles para os quais a força motriz principal do processo de mudança era a introdução do progresso técnico, independentemente da expansão demográfica.

Os partidários da primeira corrente partem do que consideram um fato: a produtividade tanto da terra quanto do trabalho nos sistemas de cultura itinerante era superior àquela obtida com os sistemas de cultura permanente que lhes sucedem. Tratar-se-ia, portanto, da passagem paradoxal de um sistema superior para um sistema inferior. Efetivamente, a pressão demográfica parece ser a única força capaz de obrigar os agricultores a trabalhar mais para obter menos. Segundo Boserup (1970), a pressão demográfica obriga os agricultores a trabalhar cada vez mais porque esta é a única maneira de aumentar a produção quando não há outros recursos que aqueles disponíveis no espaço agrário. Somente a partir da revolução industrial, quando a indústria passa a fornecer à agricultura fontes exógenas de energia e outros insumos, é que se torna possível aumentar simultaneamente o rendimento da terra e a produtividade do trabalho agrícola.

A segunda corrente abriga autores para os quais a evolução dos sistemas agrários até a revolução industrial não foi, como supõe Boserup (1970), uma sucessão de sistemas com produtividade do trabalho decrescente. Para autores neomalthusianos, como Grigg (1974), os sistemas agrários evoluem devido à introdução autônoma de inovações tecnológicas, um processo que seria inerente à curiosidade e capacidade inventiva do homem. Essas inovações, por sua vez, elevam a produção de alimentos per capita, o que tenderia a acelerar o crescimento demográfico. Assim a pressão demográfica seria o resultado e não a causa da evolução dos sistemas agrários.
[...]

Fonte: Romeiro, A. R. 1998. Meio ambiente e dinâmica de inovações na agricultura. SP, Annablume & Fapesp.

29 outubro 2017

Cólera do mar

Augusto de Lima

Disse o rochedo ao mar, que plácido dormia:
“Quantos milênios há que, tu, negro elefante,
tragas covardemente esses, cuja ousadia
se arriscou em teu dorso enorme e flutuante?”

O mar não respondeu; mas um tufão horrendo
cavou-lhe a entranha e fez estremecer de medo
o coração do abismo. Então o mar se erguendo,
atirou um navio aos dentes do rochedo!

Fonte: Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema – com a dedicatória ‘A Assis Brasil’ – publicado em livro em 1887.

27 outubro 2017

Par Deus, infanzon, queredes perder

João Garcia de Guilhade

   Par Deus, infanzon, queredes perder
a terra, pois non temedes el rei;
ca ja britades seu degred’, e sei
que lh’o faremos mui cedo saber;
ca vus mandaron a capa, de pran,
trager do[u]s anos, e provar vus an
que vo’-la viron tres anos trager.

   E provar-vus-á das carnes quenquer
que duas carnes vus mandan comer
e non queredes vos d’ũa cozer;
e no degredo non á ja mester
nen ja da capa non ei a falar,
ca ben tres anos a vimos andar
no vosso col’ e de vossa molher.

   E fará el rei côrte este mes
e mandaran-vus, infanzon, chamar
e vos querredes a capa levar
e provar-na-vus, pero que vus pes,
da vossa capa e (do) vosso guardacos
en cas del rei vus provaremos nos
que an tres anos e passam por tres.

Fonte: Vasconcelos, C. M. 2004 [1904]. Glosas marginais ao cancioneiro medieval português de Carolina Michaëlis de Vasconcelos. Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis. Cantiga de escárnio e maldizer datada da segunda metade do século 13.

25 outubro 2017

Slaveships

Lucille Clifton

loaded like spoons
into the belly of Jesus
where we lay for weeks         for months
in the sweat and stink
of our own breathing
Jesus
why do you not protect us
chained to the heart of the Angel
where the prayers we never tell
and hot and red
as our bloody ankles
Jesus
Angel
can these be men
who vomit us out from ships
called Jesus      Angel      Grace of God
onto a heathen country
Jesus
Angel
ever again
can this tongue speak
can these bones walk
Grace of God
can this sin live

Fonte (versos 1-11): Pereira, E. A., org. 2010. Um tigre na floresta de signos. BH, Maza Edições. Poema publicado em livro em 1996.

24 outubro 2017

No mar Báltico


Eugen [Gustav] Dücker (1841-1916). Die Ostsee bei Flensburg. 1893.

Fonte da foto: Wikipedia.

22 outubro 2017

Revisores que enrolam, editores que empacam

Felipe A. P. L. Costa

Escrever e reescrever várias vezes o mesmo manuscrito ofusca a visão do autor. Imprecisões, descuidos ou pequenos erros de linguagem, por exemplo, vão aos poucos se tornando invisíveis. Quem lê um texto pela primeira vez ainda não está ‘hipnotizado’, podendo assim perceber os problemas com maior facilidade do que quem ficou debruçado sobre ele durante vários dias.

Sempre que possível, portanto, é aconselhável expor versões preliminares do que se escreve a um ou outro colega, ouvindo e recolhendo os comentários e as sugestões. Leitores mais especializados (i.e., colegas que comumente leem ou escrevem artigos sobre o mesmo assunto ou sobre assuntos afins) poderão depois, quem sabe, detectar erros e mal-entendidos mais graves, propondo então mudanças adicionais mais substantivas.

Concluída a fase de redação, e tendo enviado a versão final para o editor-chefe de algum periódico (respeitável, presume-se), caberia ao autor perguntar: “Quanto tempo eu terei de esperar até que o manuscrito seja publicado como artigo científico?” – isto, claro, imaginando que o mesmo não seja prontamente recusado.

O tamanho da fila

A rigor, boa parte do tempo de espera depende do tamanho da fila; este, por sua vez, reflete o número de manuscritos que, enviados antes do nosso, já foram aceitos e agora estão apenas aguardando o momento de ir para a gráfica (ou para o ciberespaço, como hoje é regra). Filas extensas não são de todo ruins, pois podem indicar que a revista está sendo muito procurada, em função, talvez, de uma conjuntura favorável ou do bom conceito que ela usufrui na comunidade científica.

Antes do surgimento e popularização das revistas eletrônicas, o autor brasileiro esperava em média cerca de um ano (às vezes mais) até ver o seu manuscrito publicado como artigo. Esse intervalo incluía o que era gasto pelo editor até encontrar os revisores que fariam a leitura (supostamente crítica e minuciosa) do manuscrito. Na maior parte do tempo, porém, os manuscritos permaneciam em poder dos próprios revisores. Eis, então, o xis da questão: quanto tempo o revisor deveria dispor para fazer uma análise crítica e minunciosa?

Revisores bons e experientes talvez demorem a enviar seu parecer por excesso de trabalho e, nesse caso, caberia ao periódico aumentar o quadro de revisores. Por si só, no entanto, essa medida não resolveria todos os problemas – e.g., alguns manuscritos enfrentam longos e desnecessários períodos de espera simplesmente porque os revisores foram pegos de surpresa e não sabem bem o que fazer.

Contornar a inação de revisores que enrolam pode ser uma situação particularmente melindrosa para os editores. Em todo caso, trata-se de um problema que precisa ser encarado de frente, sob pena de os editores empacarem ainda mais o processo. Da parte dos revisores, bastaria devolver prontamente os manuscritos sobre os quais eles não se julgam em condições de avaliar e emitir um parecer. Pode ser difícil para egos inflados, mas seria uma clara e oportuna demonstração de integridade profissional.

A adoção de expedientes mais criteriosos, combinada com o aumento no quadro de revisores, poderia, quem sabe, não só encurtar o tempo de espera dos manuscritos que serão de fato publicados, mas, sobretudo, elevar o nível de qualidade dos artigos que aparecem em nossas (cada vez mais numerosas) revistas científicas.

Fonte: versão original publicada no Jornal da Ciência, em 30/1/1998.

20 outubro 2017

Fêtes d’hiver

Émile Verhaeren

Aube joyeuse et joli gel,
Toute la ville est cristalline
Et se pare comme un autel:
Termonde, Alost, Lierre, Malines.

Ouates, flocons, mousses, linons,
La neige a chu par avalanches;
Si purs et nets sont les pignons,
Que l’on dirait des nonnes blanches.

La couche des glaçons vitreux
Couvre les quais et leurs eaux noires,
Et les gamins aux sabots creux
Claquent du pied sur les glissoires.

Patrons, aux carrefours nichés,
Vous reluisez dans vos rocailles;
Les fontaines des vieux marchés
Brillent sous leur arroi de paille.

Et vers le ciel et ses joyaux,
Dont la lumière est vive et prompte,
Chaque clocher, de bas en haut,
Semble un ex-voto clair, qui monte.

Fonte (versos 2-4): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 4. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1910.

18 outubro 2017

Noite

Cecília Meireles

Tão perto!
Tão longe!
Por onde
é o deserto?
Às vezes,
responde,
de perto,
de longe.
Mas depois
se esconde.
Somos um
ou dois?
Às vezes,
nenhum.
E em seguida,
tantos!
Avida
transborda
por todos
os cantos.
Acorda
com modos
de puro
esplendor.
Procuro
meu rumo:
horizonte
escuro:
um muro
em redor.
Em treva
me sumo.
Para onde
me leva?

Pergunto a Deus se estou viva,
se estou sonhando ou acordada.
Lábio de Deus! – Sensitiva
tocada.

Fonte (versos 35 e 36): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª edição. BH, Editora Bernardo Álvares. Poema publicado em livro em 1945.

16 outubro 2017

Equações lineares

David C. Lay

Era o final do verão de 1949, Wassily Leontief, professor de Harvard, estava cuidadosamente inserindo o último cartão perfurado no computador Mark II da universidade. Os cartões continham informações sobre a economia americana e representavam um resumo de mais de 250.000 itens produzidos pelo Departamento de Estatística do Trabalho dos EUA após dois anos de trabalho intenso. Leontief dividiu a economia americana em 500 ‘setores’, como indústria de carvão, indústria automobilística, comunicações e assim por diante. Para cada setor, ele escreveu uma equação linear que descrevia como o setor distribuía sua produção com respeito aos outros setores da economia. Como o Mark II, um dos maiores computadores de sua época, não podia lidar com o sistema resultante de 500 equações e 500 incógnitas, Leontief precisou resumir o problema em um sistema de 42 equações e 42 incógnitas.

A programação do computador Mark II para resolver as 42 equações de Leontief levou vários meses de trabalho, e Leontief estava ansioso para ver quanto tempo o computador levaria para resolver o problema. O Mark II roncou e piscou durante 56 horas até que finalmente produziu uma solução. [...]

Leontief, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia de 1973, abriu a porta para uma nova era da modelagem matemática na economia. Seus esforços de 1949 em Harvard marcaram uma das primeiras aplicações científicas do computador na análise do que era então um modelo matemático de grande escala. Desde essa época, pesquisadores de muitas outras áreas têm usado os computadores para analisar modelos matemáticos. Por causa da enorme quantidade de dados envolvidos, os modelos são geralmente lineares, isto é, são descritos por sistemas de equações lineares.

A importância da álgebra linear nas aplicações tem crescido de modo diretamente proporcional ao crescimento do poder computacional, onde cada nova geração de hardware e software detona uma demanda para capacidades ainda maiores. Assim, a ciência da computação está fortemente ligada à álgebra linear através do crescimento explosivo de processamento paralelo e de computação em grande escala.
[...]

Fonte: Lay, D. C. 1999. Álgebra linear e suas aplicações, 2ª ed. RJ, LTC.

14 outubro 2017

Moinho


Heinrich Vogeler (1872-1942). Mühle im Teufelsmoor. 1905.

Fonte da foto: Wikipedia.

13 outubro 2017

Aniversário de 11 anos

F. Ponce de León

Ontem, 12/10, o Poesia contra a guerra completou 11 anos (2006-2017).

Nos últimos 12 meses, foram ao ar textos de 109 novos autores, além de outros que já haviam sido publicados antes – ver ‘Aniversário de 10 anos’ e balanços anteriores. Eis a lista de estreantes:

Alexandre F. B. Araújo, Ana Luiza Coelho Netto, Anacreonte, Andrea Wulf, Andrew C. Campbell, Anísio Godinho, Anna North, Anthony Crawforth, Antonio Salatino, Arthur Jensen & Arthur Rubinstein;

Benício de Barros Neto, Bertold Brecht & Bill McKibben;

Charles A. Triplehorn, Charles Lamb, Chris Rorres & Conceição Evaristo;

Dava Sobel;

Eduardo Mora-Anda, Erik Erikson, Ernst Mayr & Euro Arantes;

Fernando Reinach, Francisco Aboitiz, Francisco Carlos Teixeira da Silva & François Chapeville;

Geni Guimarães, Giacomo Leopardi, Glaucia N. M. Hajj, Gonçalo Eanes do Vinhal, Gordana Đurić & Guy de Almeida;

H. Moysés Nussenzveig, Harold Hart Crane, Horacio E. Cingolani, Howard Anton & Hugh D. Young;

Ieda S. Scarminio & Isabel Maria Loureiro;

J. C. Dalponte, J. W. Anderson, Jean Lacroix, João Bosco dos Santos, João Soares Coelho, Johannes Brahms, John Donne, John L. Harper, Jorge Faleiros, José Carlos Ometto, Juan Montiel & Juca Chaves;

Karla Chediak;

Laís V. Ramalho, Lewis Thomas, Louis Levine, Ludwig Trepl & Luiz Gama;

Magno A. P. Ramalho, Malthus de Paula, Manuel Machado, Marcia D. Lowe, Margaret Mead, Mari Evans, Maria Andréia de Paula Silva, Maria José O. Zimmermann, Marià Manent, Maria Yedda Linhares, Marilene H. Lopes, Marlise Becker, Mary Agnes Hamilton, Mary Catherine Bateson, Maurice E. Solomon, Miguel de Cours Magalhães & Murillo Araújo;

Nancy Leys Stepan, Norman F. Jonnson, Norman Metzger & Nikki Giovanni;

Oliver Wendell Holmes, Oliveira Silveira & Otto R. Gottlieb;

Paulino de Oliveira & Paulo Leonel Libardi;

Rajeev Balasubramanyam, Rebecca Stefoff, Rhoda Métraux, Robert L. Usinger, Robert T. Orr, Roger A. Freedman, Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Rolf F. Hoekstra, Romeu Jobim, Ronald A. Fisher & Roy E. Bruns;

Samuel P. Huntington, Sânzio de Azevedo, Sengai Gibon, Simón Bolívar, Simon Schwartzman, Solano Trindade & Stephen C. Stearns;

Tracy I. Storer;

Verônica de Novaes e Silva; e

W. H. Auden, Walter de Paula Lima, Walter Scott, William Coleman & William Paley.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes 27 pintores: Albert Gleizes, Andreas Achenbach & Asher Brown Durand; Dora Carrington; Edward Wadsworth & Elizabeth Adela Forbes; Fernand Léger & Frederic Edwin Church; George Clausen & Granville Redmond; Henri Le Fauconnier & Henry Tonks; Jean Metzinger, Jean-Paul Laurens & Juan Gris; Léon-François Comerre & Louis Gurlitt; Mark Gertler; Noel Ford; Perugino & Pierre-Narcisse Guérin; Sassoferrato & Stanhope Forbes; Thomas Moran & Tony Robert-Fleury; Vittore Carpaccio; e William Keith.

10 outubro 2017

Lagartos brasileiros

Verônica de Novaes e Silva & Alexandre F. B. Araújo

Os lagartos constituem um dos grupos mais ricos e diversificados de répteis. A riqueza do grupo e a extensão geográfica de sua área de distribuição nos Neotrópicos são bastante expressivas. Só no Brasil, já foram registradas mais de 220 espécies de lagartos, abrangendo um total de dez famílias diferentes. Cinco dessas famílias (Iguanidae, Hoplocercidae, Tropiduridae, Polychrotidae e Leiosauridae) pertencem ao grupo Iguania, enquanto as outras cinco (Teiidae, Gymnophthalmidae, Scincidae, Gekkonidae e Anguidae) pertencem ao grupo Scleroglossa, que também inclui as serpentes e as anfisbenas. Juntos, os grupos Iguania e Scleroglossa formam a ordem Squamata, reunindo assim serpentes, lagartos e anfisbenas.

Apesar de toda essa riqueza, há um acentuado grau de desinformação sobre a relevância biológica dos lagartos, o que tem gerado pouco ou nenhum interesse pela proteção desses animais. Espécies endêmicas (e.g., Cnemidophorus parecis e Liolaemus lutzae) de regiões sujeitas a processos de modificações aceleradas, como o cerrado e o litoral do Sudeste, correm sério risco de desaparecer [...]. Para organismos tão pouco carismáticos como os lagartos, em torno dos quais proliferam preconceitos e noções distorcidas, a situação torna-se particularmente crítica e preocupante.

Nos centros urbanos, por exemplo, o fato de apenas uma pequena parcela do elevado número de espécies brasileiras de lagartos ser facilmente avistada, frequentemente em locais pouco ou nada atraentes, como banheiros (lagartixas, Hemidactylus mabouia), terrenos baldios (calangos-verdes, Ameiva ameiva) e bueiros (calangos, Tropidurus torquatus), leva o cidadão comum a detratar fortemente todo o grupo. Em locais menos urbanizados, onde é possível encontrar um maior número de espécies, é comum ouvir relatos de moradores nos quais os lagartos assumem características e atitudes suspeitas e potencialmente perigosas aos seres humanos, evidenciando um acentuado preconceito cultural. Uma senhora informou que existem lagartixas na Amazônia que chupam o sangue das pessoas, enfraquecendo-as e causando anemias. O relato foi feito com convicção irrefutável e exemplificado por vários ‘casos’. Uma família baiana não repelia e até se alimentava de calangos-verdes (Ameiva ameiva), mas os meninos do local ficavam especialmente assustados ao avistar o animal, comentando sobre o perigo de ser mordido por aqueles “dentes enormes”. Em uma fazenda goiana, um bicho-preguiça (o camaleão Polychrus acutirostris) escalava uma trepadeira, enquanto os meninos que o observavam ficaram amedrontados ao ver aquele animal “perigosíssimo”, “que tinha o hábito de grudar nas pessoas e só se soltar com o barulho de um trovão ou de um avião passando”.
[...]

Fonte: Silva, V. N. & Araújo, A. F. B. 2008. Ecologia dos lagartos brasileiros. RJ, Technical Books.

08 outubro 2017

Pégaso cansado

Romeu Jobim

Coração, ginete árdego
de cavalgadas mil,
era esporear-te e sôfrego
a paragens e mundos
longínquos me levares.

Nunca, indormido pégaso,
um voo me negaste.           

Estouvado centauro,
cansei-te. E hoje não voas
nem corres.

Mas refaze-te
e acorda, companheiro
de aventuras!

Com tua
ajuda é que ainda espero
chegar àquela estrela!                

Eia, vamos, desperta!

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 2003.

06 outubro 2017

Matí

Marià Manent

Ets eixida del son com del mar. Tota humida,
somriu encar la boca als somnis, dolçament.
Brilla el sol a les herbes, però tu veus l’argent
     de la lluna, entre l’aigua adormida.

Una llum de maragda mig emboira els teus ulls;
té perfums d’aquell mar ta delicada argilla;
i dus una gran perla pàllida sota els rulls,
     ondulats com una alga tranquilla.

Fonte: Pinto, J. N. 2002. Solos do silêncio, 2ª ed. SP, Geração Editorial.

04 outubro 2017

Sistemas agroflorestais

Walter de Paula Lima

Sistema agroflorestal pode ser definido como uma modalidade de uso integrado da terra para fins de produção florestal, agrícola e pecuária. Como tal, pode ser entendido como um sistema moderno e bastante adequado de se alcançar uma produção florestal social e ecologicamente mais equilibrada [...].

Sob o termo geral de sistemas agroflorestais, vários subsistemas ou práticas agroflorestais podem ser estabelecidos. O aspecto principal em todos eles é a presença deliberada do componente florestal para fins de produção, de proteção ou visando ambas as coisas simultaneamente. [...]

Em comparação com os sistemas convencionais de uso da terra, a agrossilvicultura tem principalmente o objetivo de permitir maior diversidade e sustentabilidade. Do ponto de vista ecológico, a coexistência de mais de uma espécie numa mesma área pode ser justificada em termos da ecologia de comunidades: desde que as duas espécies ocupem nichos diferentes, de tal forma que seja mínimo o nível de interferência, então as duas espécies podem coexistir [...]. O menor nível de perturbação do sítio normalmente associado aos sistemas agroflorestais, a condição de proteção mais adequada pelas copas das árvores, além de outros, são fatores que conduzem a uma melhor utilização da água e dos nutrientes em tais sistemas. Na agrossilvicultura, a ciclagem de nutrientes tende a ser mais rápida e os nutrientes que seriam normalmente perdidos num sistema convencional de monocultura são, normalmente, mais bem aproveitados pelas culturas intercaladas. Ainda, pode também haver um efeito neutralizante entre uma espécie de demanda alta de nutrientes, em contrapartida à capacidade maior de enriquecimento orgânico do solo apresentado pela outra espécie consorciada [...].

Fonte: Lima, W. P. 1996. Impacto ambiental do eucalipto, 2ª ed. SP, Edusp.

02 outubro 2017

Queda d’água norueguesa


Louis Gurlitt (1812-1897). Norsk vandfald. 1835.

Fonte da foto: Wikipedia.

eXTReMe Tracker