23 novembro 2017

Grupos sanguíneos

Nigel Ashworth Barnicot

Em 1900, Landsteiner descreveu uma experiência na qual células vermelhas [do] sangue de uma pessoa eram misturadas com o soro de outra; verificou que em algumas combinações as células vermelhas se agruparam ou aglutinaram e conseguiu, à base dessas reações, distinguir três tipos de indivíduos, os quais agora dizemos pertencerem ao grupo A, B ou O. Um quarto grupo mais raro, AB, foi reconhecido alguns anos mais tarde. Essas descobertas foram a base de transfusões de sangue seguras, e delas surgiu o campo especial da serologia de grupos de sangue que ocupa um lugar importante na genética e na antropologia. Foi só dez anos após a descoberta de Landsteiner que se demonstrou serem essas qualidades individuais de sangue herdadas e mais catorze anos se passaram até se assentar no modo de hereditariedade dos grupos ABO. Entretanto, os trabalhos de Hirszfeld, mostrando que as frequências dos fenótipos ABO diferiam em várias populações, introduziram os grupos sanguíneos na antropologia. São agora conhecidos outros dez sistemas de grupos de sangue, cada um herdado independentemente do sistema ABO e, uma vez que alguns deles incluem muitas formas variantes, que dependem de genes alélicos ou intimamente ligados, a escala de variação potencial destes caracteres serológicos é muito ampla. Com raras exceções, o grupo sanguíneo de uma pessoa não é afetado pelo seu ambiente e permanece inalterado desde os princípios da vida pós-natal até a morte. A hereditariedade das variantes dos grupos sanguíneos obedece às leis de Mendel com notável claridade, embora, como veremos, possa às vezes haver diferenças de opinião quando se trata de interpretar as conclusões em termos de genes individuais. Esta precisão em sua hereditariedade dá aos grupos sanguíneos um valor especial nos testes de paternidade e nos trabalhos de ligação genética e, juntamente com o fato de muitos tipos variantes serem comuns, recomenda-os aos estudiosos da genética da população humana.

Fonte: Harrison, G. A. et al. 1971 [1964]. Biologia humana. SP, Nacional & Edusp.

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